Um Presidente Mórmon?
MARCUS VINÍCIUS DE FREITAS*
À medida que as eleições norte-americanas se aproximam, com a convenção republicana em Tampa, na Flórida, entre 27 e 30 de agosto, quando será confirmada a chapa, com Mitt Romney à frente do ticket republicano, muito se especula a respeito de duas coisas: a) quem será o candidato a Vice-Presidente; 2) como será um presidente Mórmon à frente da Casa Branca?
Vários são os potenciais candidatos à Vice-Presidência. Três, aparentemente, seguem à frente na bolsa de apostas: (i) o Senador Marco Rúbio, da Flórida, um colégio eleitoral importantíssimo, além de representar os latinos, com um currículo impressionante de realizações e enorme carisma; (ii) o ex-Governador Tim Pawlenty, conservador do Minnesota, que concorreu nas primárias, mas foi um dos primeiros a abandonar a disputa para apoiar Romney, e (iii) o Senador Rob Portman, de Ohio, um estado importante na corrida eleitoral, e que serviu como representante comercial dos Estados Unidos e Diretor do Escritório de Administração e Orçamento na Administração Bush.
Além destes, há inúmeros outros que poderiam muito contribuir à candidatura. O importante será demonstrar uma abertura que reúna não somente os conservadores, mas que atraia a maior parte dos eleitores independentes, particularmente nos estados que alternam os votos, entre republicanos e democratas, durante os anos eleitorais, conhecidos como “swing states”.
A outra questão relevante tem a ver com a religião professada por Mitt Romney, conhecida oficialmente como A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Apelidados de Mórmons, em razão de um livro considerado sagrado que, segundo afirmam seus seguidores, foi traduzido pelo dom e poder de Deus, pelo fundador da religião, Joseph Smith. Este iniciou o movimento no interior de Nova Iorque, em 1820, quando por lá havia uma grande cruzada em busca de almas.
Nessa ocasião, Smith, confuso, buscou na Bíblia Sagrada a resposta aos seus questionamentos e, como consequência, afirmou ter recebido instruções divinas para organizar uma nova perspectiva no pensamento cristão, incluindo muitas que ele afirmou ter recebido das mais variadas fontes divinas. Smith foi o criador de uma verdadeira religião norte-americana.
Assassinado alguns anos depois, devido aos perigos representados por uma religião que crescia rapidamente, além da prática da poligamia, Smith logrou criar um sentido de comunidade disposta aos maiores sacrifícios em virtude de sua fé. Já estabelecidos em Utah, sob uma nova liderança, a questão da poligamia foi abandonada como doutrina em 1888. Alguns autointitulados de “fundamentalistas”, no entanto, ainda praticam a poligamia, porém o ramo oficial da religião abandonou a prática, apesar de o estigma ainda permanecer.
Além da crença no Livro de Mórmon, na Bíblia e numa organização com profetas e apóstolos, os Mórmons, com um intenso espírito de proselitismo, aderem a um padrão moral que inclui a castidade, restrição a substâncias viciantes (tabaco, café, chá preto, álcool e drogas), pagamento do dízimo, e uma ênfase muito grande sobre a unidade familiar que – acreditam – pode ser perpetuada na eternidade, razão porque constroem frequentemente os chamados Templos Mórmons, em várias partes do mundo, além de uma participação ativa em assuntos de natureza humanitária.
O que esperar, então, de um Presidente Mórmon? Em primeiro lugar, um senso mais aprofundado de patriotismo. Os Mórmons norte-americanos são reconhecidos por seu apego aos Estados Unidos e pelo sentido histórico que para eles o país representa. Além disso, haverá uma ênfase maior em princípios de moralidade um tanto esquecidos desde os dias de Richard Nixon e Bill Clinton. Além disso, haverá o retorno a alguns princípios básicos, característicos do espírito norte-americano, com um incentivo acentuado à autossuficiência, livre mercado, propriedade privada e redução do tamanho do Estado.
Com certeza, as recepções na Casa Branca ficarão muito mais monótonas, se bebidas alcoólicas forem excluídas. A imagem tradicional da família perfeita retornará, sem dúvida. Resta esperar para ver se estes princípios, de fato, ecoarão na sociedade e serão consagrados na urna. Esta é a resposta que vale um milhão de dólares.