Juventude e Trabalho

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BERNARDO SANTORO *

Me pego pensando se as pessoas realmente esqueceram qual é o evento que está ocorrendo nesta semana aqui no Rio de Janeiro: a Jornada Mundial da Juventude. Digo isso porque fico com a impressão de que a vinda do Papa Francisco, o primeiro Papa latino-americano, acabou por obliterar a real função desse evento: discutir o papel do jovem no mundo atual.

O Papa, no seu discurso de ontem, até tentou relembrar as pessoas do que realmente se trata esse evento, que, repisa-se, não é a vinda dele. A grande preocupação do discurso de ontem do Sumo Pontífice foi a falta de trabalho para os jovens. Destaco uma passagem: “É verdade que a crise global não tem sido suave com os jovens. Li, na semana passada, quantos deles estão sem trabalho e acho que estamos correndo o risco de criar uma geração que nunca trabalhou”.

Vou tentar fazer alguns breves comentários sobre o tema, em cima do que disse V. Santidade.

O problema da falta de empregos para jovens passa por duas questões: (i) falta de criação de novos postos de trabalho e (ii) falta de rotatividade dos postos já existentes.

O problema da criação de novos postos de trabalho está intimamente ligado ao custo de criação desse posto e à falta de poupança na sociedade para investimento na geração desses novos empregos. O custo na criação desse posto tem a ver com a imensa burocracia a ser vencida e os inúmeros tributos incidentes na folha salarial. Cálculos modestos alegam que cada empregado no Brasil custa, em média, 150% do valor do seu salário, e o empregado brasileiro é o mais caro do mundo. Ao longo do último mês o governo tem até feito um esforço na tentativa de desoneração da folha de pagamento e deveríamos ver os efeitos disso em breve, com um maior aumento nos postos de trabalho, desde que outros fatores não influenciassem negativamente.

Um desses fatores é a falta de poupança. Para que um empreendedor possa criar um negócio e abrir postos de trabalho, precisa de uma poupança anterior que dê fôlego financeiro a ele. A poupança interna no Brasil é muito ruim, em virtude do alto nível de consumo de riquezas feito pelo inchado estado brasileiro, atrelado a uma cultura da nossa população de não poupar, cultura essa que entendo derivar da tradicional instabilidade da moeda brasileira, pois historicamente convivemos com uma gigantesca inflação que deteriora o valor das poupanças, fenômeno esse conhecido como “imposto inflacionário” ou “senhoriagem”.

O governo tem, na última década, resolvido o problema da falta de poupança brasileira com dois expedientes: (i) a utilização de poupança externa, através de investimentos estrangeiros, mas a falta de confiança do exterior com os rumos da nossa economia está fazendo minguar essa opção, motivo pelo qual estamos cada vez mais com uma intensa fuga de capitais, além de um dramático aumento da dívida nacional e (ii) alavancagem da poupança interna com a expansão da base monetária sem lastro, literalmente criando dinheiro do nada, mas a utilização desse expediente possui como limite a própria poupança, já que o dinheiro inventado na verdade rouba valor do dinheiro pré-existente, e no momento em que o dinheiro pré-existente não tiver valor nenhum, não há mais o que se alavancar.

Então, na verdade, as soluções governamentais atuais não atacam as doenças econômicas, mas apenas os sintomas, e a sensação de bem-estar e pleno-emprego estão escondendo uma catastrófica deterioração da riqueza nacional que resultará, muito provavelmente, em uma grave crise econômica com extinção de vagas de trabalho.

Esgotada a discussão sobre a falta de criação de novos postos de trabalho, cabe agora a questão da falta de rotatividade nos empregos. Toda regulação de direito trabalhista tem, por objetivo, proteger o emprego de quem já está empregado. Só que o atual empregado, no decurso do tempo, envelhece, e a dificuldade na dispensa desse empregado envelhecido é um dos fatores da falta de perspectiva do jovem.

A opção legislativa por um direito do trabalho com grandes garantias de estabilidade e dificuldade na dispensa é, na verdade, uma opção a favor do mais velho em detrimento do mais jovem, especialmente em uma economia com pouca poupança disponível e poucas oportunidades de emprego. Certamente os mais velhos gostam dessa opção democrática, ao contrário dos jovens, que certamente não concordam com ela.

Cabe ainda um último comentário a respeito da necessidade do trabalho. O trabalho é o melhor instrumento de emancipação social e independência financeira, motivo pelo qual a sua existência é tão efusivamente festejada, a ponto de, na idade moderna, ter se falado que “o trabalho enobrece”. E na época enobrecia literalmente, visto que os empresários burgueses, ricos pelo comércio e ávidos por status social, compravam os títulos dos nobres falidos, literalmente virando nobres.

Mas algo que nunca pode ser deixado de lado é que o trabalho não é um fim em si mesmo, ele é um meio para se buscar uma vida melhor. De nada adianta uma sociedade de pleno-emprego, como a sociedade comunista, onde todos tinham trabalho e ninguém tinha o que comer direito, vivendo uma vida de privações e desconforto. O trabalho só funciona como meio de busca de objetivos se estiver inserido em um sistema de livre-mercado, onde as pessoas conseguem trocar produtos e serviços de maneira barata e eficiente, buscando os seus próprios objetivos, e não os objetivos pré-concebidos de autoridades e burocratas.

Portanto, não basta procurarmos criar postos de trabalho, mas antes disso temos que criar as condições para que as pessoas possam fazer desse trabalho um mecanismo de prosperidade. Talvez a falta desse elemento da liberdade tenha feito com que o discurso do Papa parecesse vazio de conteúdo, ou se não vazio, pelo menos excessivamente populista e pouco prático, servindo até mesmo como plataforma política para os parasitas do estado brasileiro que o acompanhavam no Palácio Guanabara.

Se realmente quisermos um futuro melhor, precisamos buscar soluções reais e práticas para a criação de postos de trabalho em uma cultura de liberdade, poupança e austeridade fiscal. Só assim teremos uma economia realmente sustentável para a nossa juventude e as próximas gerações.

* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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