Tentativa de elucidação: ser um liberal no Brasil
Ser um liberal clássico, desde jovem, neste país é, realmente, um grande fardo. Você é chamado de insensível, reacionário, aliado do grande capital, explorador de mão de obra – isso, só para citar os ataques mais educados. Além disso, você é acusado de defensor da ditadura militar, e, por meio dessa cambalhota retórica, berram, com fervor indignado, a palavra “fascista”. Liberal-fascista? Isso é uma evidente contradição em termos.
Vejam como são as coisas. Você, muito provavelmente, foi entulhado de comunismo e socialismo desde os bancos escolares. Todavia, aquela “lenga-lenga” lhe parecia absolutamente ilógica. Então, por mera curiosidade, você se depara com “O Caminho da Servidão” de F. A. Hayek. Agora, não tem mais volta. Você acaba lendo “A riqueza das Nações” de Adam Smith, sem o viés esquerdoso que seu professor de história apresentava. Algo, portanto, parece estar muito errado.
O destino te leva a navegar por Milton Friedman, Ludwig Von Mises, além de diversos outros, e, em um passado recente, era possível se deliciar com as belas colunas do saudoso Roberto Campos aos domingos. Não havia mais solução, você estava convencido de que o argumento esquerdoso era uma falácia gritante para a tomada de poder. A “Revolução dos Bichos”, de George Orwell, é a pá de cal para essa conclusão.
Na sequência, você resolve fazer uma breve releitura da história dos países comunistas, sem a tendenciosidade de seus professores. O que se percebe? Genocídio, fim das liberdades individuais e do direito de credo, uma pobreza generalizada e uma burocracia rica vivendo no “bem e bom”.
Nesse momento, o contato com o raciocínio liberal não lhe dá outra alternativa. Você percebeu que do ponto de vista teórico aquela empulhação e doutrinação toda não fazia o menor sentido. Mas, vamos à prática, pois sem ela as teorias são imprestáveis. Então, você mergulha na análise dos países mais liberais. Trata-se de um choque de realidade brutal, é impressionante como a vida das pessoas – do povo, mesmo, para usar expressão do gosto de nossas esquerdas – é infinitamente melhor. A situação do Chile e Hong Kong, e.g., afasta qualquer possibilidade de crença nas “virtudes” do socialismo.
A iluminação vem queimando em sua mente. Então, inocentemente, você tenta dividir o resultado de sua descoberta com seus amigos. O fracasso é praticamente total – salvo honrosas exceções. Eles apreenderam direitinho a dialética marxista (e, inclusive, tiram notas maiores que as suas por essa razão). Mas há algo de incompatível no discurso deles. A grande maioria odeia os Estados Unidos, mas adora carregar um Ipod a tiracolo. Compram roupas de grife americana, viajam para ver o Mickey e não perdem um filme hollywoodiano.
Ora, afinal de contas, o que está acontecendo? A hipocrisia é total e as pessoas gostam de duas coisas básicas: fazer parte da “turma”; e, pão e circo. Com o passar dos tempos, a situação piora, alguns ricos – de braços dados com o governo – bebem champanhe francês, comem caviar, passeiam de barco com tudo do bom e do melhor, e por aí vai. Entretanto, repetindo o velho cacoete, fazem lindos discursos de esquerda, acreditam piamente na luta de classes, dão rios de dinheiro para políticos esquerdosos, que, no fundo, adoram uma ditadurazinha.
Vendo tudo isso, só resta uma opção: continuar tentando demonstrar as falácias esquerdosas. Tentar explicar para o maior número de pessoas que o livre mercado é o maior gerador de riquezas que existe. Que o Estado não tem que se meter na economia, suas funções básicas são: educação, saúde, justiça, relações internacionais, defesa e proteção à concorrência. Basta isso. O resto que fique a cargo de todos nós, cooperando voluntariamente. Sem sombra de dúvidas, teremos mais sucesso assim.