Uma boa crítica do FMI à economia brasileira

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BERNARDO SANTORO*

O FMI divulgou ontem, segundo o Globo, um relatório completo sobre a economia brasileira, na qual demonstra preocupação acentuada com a política fiscal, a perda de competitividade, a baixa poupança doméstica, a inércia inflacionária e a relutância em fazer reformas estruturais e abandonar a política de estímulos do pós-crise.

Vamos concordar com o FMI dessa vez e falar rapidamente sobre essas questões.

A atual política fiscal brasileira é um horror amplamente conhecido. 90 tributos diferentes, 40% do PIB sequestrado pelo governo e desrespeito a Lei de Responsabilidade Fiscal com maquiagens orçamentárias. O país, como um todo, perde credibilidade internacional por conta de um problema de gestão de governo, cuja responsável direta é a Presidente. A transferência de parte das dívidas de estados e municípios, através de um truque contábil, para a União, apenas agrava esse cenário.

A perda de competitividade está atrelada ao péssimo nível de recursos humanos do Brasil, graças a uma política educacional que prioriza “consciência social” ao invés de matemática, física e química (demonizados por professores sindicalistas por ser “lógica neoliberal”), péssima infra-estrutura, estatizada e sucateada pelos incentivos perversos da lógica de estado, burocracia galopante que que gera altíssimos custos de transação e uma legislação trabalhista que dispensa maiores comentários. As reformas estruturais deveriam justamente mudar esse panorama, mas o governo prefere hoje investir em medidas paliativas como o bolsa-família para pobres e bolsa-empresário para ricos (BNDES).

Baixa poupança doméstica e inflação são dois assuntos interligados. A inflação, tendo por causa o aumento artificial da quantidade de crédito no mercado pelo governo, corroeu durante anos o poder aquisitivo do brasileiro, que se acostumou a não poupar para não ver seu dinheiro perder valor. Com a grande expansão monetária ocorrida nos últimos dez anos, tal fenômeno voltou a ocorrer, com o dinheiro do cidadão sendo transferido para o governo através do imposto inflacionário. Sem essa poupança doméstica, não temos recursos para investir no aumento da produtividade social, e toda a economia fica estagnada ou dependente de poupança externa para crescer.

Por fim, sobre os estímulos pós-crise, como a própria injeção de crédito na economia, boa doutrina econômica diz que ela é a pior maneira de se reverter uma crise econômica. Na verdade, de acordo com a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, ela agrava e expande a crise, pois mais recursos são consumidos ao invés de serem poupados. Mas ainda que se seguisse o remédio(?) keynesiano, ele também é mal aplicado, pois, de acordo com a doutrina intervencionista tradicional, na época de bonança o governo deve restringir o crédito para repor a poupança, coisa que o governo keynesiano brasileiro não faz.

Dentro desse cenário, considero a estimativa do FMI de crescimento de 3,5% no próximo ano algo bem generoso, e caso venha a ocorrer, não será por causa do governo, mas apesar dele.

*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

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