A função paterna

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DR. JOSÉ NAZAR *

Insisto na importância da lei do pai. Ela condiciona o bom funcionamento tanto das famílias quanto de uma nação. Os jovens aqui estão pedindo lei, e em todos os sentidos!

A falta de clareza na resolução das coisas mais simples ao ordenamento das instituições tem uma relação direta com o apagamento dos efeitos da palavra de um pai que, ao instaurar a lei, poderia estabelecer os limites enquanto tais. A figura do pai, sustentada por uma autoridade pública ou privada, é a base de sustentação tanto de uma estrutura familiar quanto de uma nação.

Pai é doador de limites. O sagrado da sua palavra tem o dom de inseminar no espírito de um indivíduo como em uma sociedade, a verdadeira disposição ao diálogo. O gesto paterno institui o justo, é aquilo que faz brotar a lei da diferença além de ser, indiscutivemente, o que apela para os princípios éticos: diferença sexual, respeito ao próximo, limites, nada mais que isso!

Na história do Brasil e de seus governantes evidenciou-se a carência de alguém que pudesse encarnar a figura de um pai à altura de sua função. Desde sua colonização, nosso País sofre os efeitos dessa precariedade dos homens dignos na condução da coisa pública. A crise brasileira tem como nome a decadência dos valores éticos e morais.

Somente o estabelecimento da lei em toda a sua grandeza e generosidade poderá colocar o País no caminho de um verdadeiro progresso. Assim está escrito no lema de nossa bandeira, tão aclamado pelos jovens nas ruas: “Ordem e Progresso”! Isso necessita vigorar, e a partir da esfera maior do governo federal: a Presidência da República e o Congresso Nacional! A Educação é a base, mas a Ética e a Moral são seus pilares de sustentação.

Uma coisa é certa: os brasileiros não aceitam mais viver imersos num lamaçal de mentiras, soterrados sob o manto da ilusão, nutridos por migalhas de pequenas políticas paternalistas, alienantes, e que promovem humilhações. Vivemos, em relação aos nossos governantes, uma relação de orfandade. Órfãos de pai!

O respeito ao bom funcionamento das instituições democráticas deve-se aos limites que a lei do pai efetiva em relação às práticas incestuosas que desvirtuam a relação de um cuidado maior com a coisa pública. Isso se aplica não somente às invasões danosas, sem limites, que uma corrupção sistêmica vem apresentando aqui e ali, mas também ao movimento violento que alguns jovens vêm empreendendo em suas reivindicações. Sofremos um estado de descaracterização.

Ninguém é inocente. Há, no movimento dos jovens, uma presença cada vez maior de lideranças, uma adesão partidária nociva àquilo que estava na sua origem. Esse destino, o de uma violência desmedida, tem operado no sentido de inibir uma participação mais efetiva da sociedade como um todo. Os jovens, ao se insinuarem com atos de violência, perdem a razão, operam a favor de uma não mudança. O que eles querem?

As esperanças que tomaram conta da alma dos jovens, pelo menos no início das manifestações, não têm conseguido convocar a sociedade brasileira. Pelo contrário, se deixaram contaminar pelo vírus de uma violência “gratuita”, anulando uma voz que poderia ensinar algo novo aos nossos governantes. Mesmo assim, acredito que as autoridades públicas devem insistir numa abertura ao diálogo. Ao invés de abafar a voz dos jovens que se manifestam nas ruas, poderiam se beneficiar ao escutar o que elas têm a dizer. Insistir!

Os gestos, mesmo os mais agressivos, sempre carregam consigo uma mensagem, não importa qual, é preciso fazê-los falar. O diálogo está na base de qualquer bom governo, que não é somente aquele que ganhou uma eleição. Isso pode ser importante, fundamentalmente quando se trata de uma conquista verdadeira, com legitimidade. O bom político deve dignificar a política da mesma maneira que o bom amante  dignifica o amor. Ele deve estar à altura do cargo que ocupa.

Quando uma família ou uma sociedade carece dos efeitos de uma função paterna o resultado é a efetivação de uma vida desprovida de limites justos. Pai é respeito! É a função paterna que introduz os limites da realidade de cada um e, quando isso falta, o caos se instala: filhos doentes, instituições perversas!

* PSIQUIATRA E PSICANALISTA DA ESCOLA LACANIANA DE PSICANÁLISE

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