A hora da verdade: os mais recentes capítulos do cerco a Brahma e sua cria

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Brahma - o deus
Brahma – o deus

Depois de ter chegado ao ponto de “cantarolar” metaforicamente a marchinha carnavalesca “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, a presidente Dilma Rousseff teve mais motivos esta semana para deixar as barbas de molho – se ela as tivesse. Já seu criador, o “Brahma”, o símbolo-mor da legenda da estrela vermelha, as tem. E fecha a semana com chave de ouro, figurando nos noticiários por um motivo nada feliz – para ele. Vamos por partes, porém, que a semana foi longa. Tentemos resumir alguns dos muitos novos episódios da pitoresca saga do moribundo Brasil lulopetista. Respire fundo.

A começar, em quebra de expectativa, por uma notícia ruim para gente decente, mas que não traz nenhuma surpresa: os senadores da base governista apresentaram seu relatório acerca da visita de comadres à Venezuela de Maduro, alegando que não há nenhuma grande distorção antidemocrática no país em que, ao mesmo tempo, a conhecida oposicionista Maria Corína Machado está proibida de participar das recém-marcadas eleições parlamentares. Senadores da oposição brasileira, como Aloysio Nunes e Aécio Neves, manifestaram sua indignação diante da atitude dos “compatriotas” traidores da pátria, que não veem mal algum na ofensa que o tiranete do país vizinho prestou ao Brasil, na figura de um seus poderes republicanos em visita oficial. É pouco. O gesto ofensivo, digno das mais profundas retaliações, até agora não produziu, quer por parte do governo, quer por parte da oposição, as consequências radicais que seriam esperadas de qualquer nação que deseje atestar sua dignidade.

A semana também vai se encerrando com outra notícia péssima para o Brasil, embora acabe podendo ser positiva em certo sentido, ao acrescentar um golpe mortal nas alegações estapafúrdias do governo quanto ao seu sucesso econômico em se proteger da tenebrosa crise internacional. Explicamos: senhoras e senhores, em um documento de mais de 3 mil páginas, a União Europeia pediu à Organização Mundial do Comércio a condenação do Brasil por “discriminação a produtos estrangeiros, uso de subsídios vinculados à exportação e ao conteúdo local e programas que beneficiam os setores automotivo, eletrônico, e de máquinas de uso profissional e industrial”, conforme síntese da matéria de Veja a respeito. A ação é movida paralelamente a um processo similar acionado pelo Japão. Como vemos, não é apenas no Brasil; o mundo também fecha o cerco ao redor de Dilma Rousseff.  E o recado que isso passa é o lado positivo; se nossa população tiver um pingo de bom senso, não se deixará enganar mais por narrativas que culpem todos esses “países poderosos” por uma perseguição injusta ao “governo maravilhoso” de nossa presidente. Diante de um governo que nos faz chegar a sofrer tamanha humilhação, que só não é pior que as consequências domésticas já sentidas da política econômica irresponsável, da gastança fora dos limites e do apadrinhamento de empresários poderosos (os “amigos do rei”) em detrimento da liberdade de mercado, somente hipócritas indignos como o senador Lindbergh Farias – que construiu sua trajetória a partir dos brados incensados pela queda do então presidente Collor – podem dizer, em tom fanfarrão, que o que se articula é um “golpe” contra um governo popular.

Collor, aliás, que, hoje senador, articula alianças para frear a recondução de Rodrigo Janot ao Ministério Público, depois da investigação na Casa da Dinda que gerou tanta insatisfação. As “perturbações” causadas pelas investigações da Lava Jato são tantas que incomodam não apenas os petistas, mas também, como dissemos, os “oligarcas” e fisiológicos que perfizeram a base de sustentação da sua governabilidade nesta última década, e hoje se indispõem com o aliado indigesto. Nesse cenário, um dos insatisfeitos pode trazer consequências devastadoras para o Planalto, no que seria apenas coerente com a maneira como vem ganhando destaque na presidência da Câmara. Sim, estamos falando dele, Eduardo Cunha, talvez o segundo ou terceiro político mais comentado no Brasil hoje, ameaçado pela denúncia de Júlio Camargo, da Toyo Setal, que alegou que o peemedebista cobrou 5 milhões de dólares de propina em contrato da Petrobras. Fez a alegação, vale destacar, trazendo à tona algo que não havia dito em depoimentos anteriores, o que, seja qual for a verdade, é questionável. Cunha está irritado, e sua irritação pode render, nada mais, nada menos que a abertura da famigerada e potencialmente arrasadora CPI do BNDES, segundo a Folha de São Paulo. É mole ou quer mais?

Calma que TEM mais. Chega ao fim o prazo para o governo preparar sua defesa junto ao TCU, onde serão aprovadas ou rejeitadas as contas públicas, diante da lei de responsabilidade fiscal. A rejeição, que vem sendo apontada como tendência, fortalece e pode ensejar, como se sabe, um processo de impeachment no Congresso. Ainda sobre impeachment, Eduardo Cunha, novamente ele, segundo o Movimento Brasil Livre em sua página na rede social Facebook, avisou que pretende dar uma resposta sobre o pedido oficial do movimento popular em até 30 dias. Não sabemos o que Cunha tem em mente, mas ao final desse prazo já estaremos às vésperas da manifestação nacional marcada para 16 de agosto, e teremos, no mínimo, uma noção da atmosfera que a precederá. Podem ser os derradeiros golpes contra a combalida presidente, que, já agora, finge que preside – e Eduardo Cunha não dá ponto sem nó.

Ufa! Nossa lista está quase no fim. Guardamos para o final a dor de cabeça do “Brahma”: o “grande líder da massa trabalhadora”, o novo “pai dos pobres”, o “messias” do petismo, está oficialmente sendo investigado pelo Ministério Público Federal pela suspeita de tráfico de influência internacional para favorecer a Odebrecht. Se sua cria fragilizada estremece e despenca cada vez mais rumo ao abismo, o pai da criança, o nosso “Brahma”, que de deus hindu só tem o apelido, que vem tentando criar uma narrativa política que o afaste do peso negativo que se adensou sobre sua sucessora, agora sente o calor do perigo soprar no cangote. Fique esperto, Brahma. Fique esperto, Brasil. Vivemos a hora da verdade. Vejamos se as mentiras conseguem escapar ilesas, ou se conseguimos escapar do nosso sórdido “Samsara” – só que por estas bandas, ao contrário do Hinduísmo, nós teremos que expurgar o nosso infame “deus criador” para isso.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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