As deserções cubanas: a fuga pela liberdade
“Sem dúvida a promessa de maior liberdade tornou-se uma das armas mais eficazes da propaganda socialista, e por certo a convicção de que o socialismo traria a liberdade é autêntica e sincera. Mas essa convicção apenas intensificaria a tragédia se ficasse demonstrado que aquilo nos comprometeria como o Caminho da Liberdade era na realidade o Caminho da Servidão.” – Friderich August von Hayek
Em vários eventos esportivos, sejam os Jogos Olímpicos, os Jogos Pan-Americanos, a Liga Mundial de vôlei e até a Copa Ouro de Futebol (Competição de seleções de futebol da América Central, América do Norte e Caribe), atletas cubanos costumam fugir das delegações representantes, em busca de liberdade para viver e em busca de uma melhor condição de vida em algum lugar do planeta. Mas como em todo evento esportivo desertam esportistas cubanos?
Como todos nós sabemos, Cuba é uma república socialista desde a revolução de 1959. Quaisquer formas de mobilidade social (exceto se você for um Castro) são praticamente nulas no país caribenho. Porém, os atletas gozam de certo prestígio, pois eles são a maior propaganda para o regime. Os resultados positivos desses atletas servem para a ditadura dos Castro fazer propaganda do regime frente ao mundo e dizer que “tudo está normal” na ilha.
Mas na verdade não está tudo bem. Pessoas a cada dia mais arriscam a própria vida para tentar sair de Cuba e tentar a sorte em algum país; muitas vezes e até pela proximidade, tentam ir para os Estados Unidos. Fazem-no fugindo da fome e da supressão da liberdade, seja ela de credo, de ir e vir, de expressão e até de sexualidade. Viver em Cuba é literalmente viver em uma prisão.
Esses atletas, por serem uma das maiores propagandas de um falso sucesso do país, têm uma estrutura e contam com benefícios maiores vindos do governo Cubano. Recebem um salário acima dos 30 dólares dos cidadãos comuns e garantias de mais conforto, tornando o fato de ser atleta em Cuba algo que seria uma “classe social” diferenciada. É o máximo existente em relação à mobilidade social. Porém, todo cidadão que se preze quer ganhar um salário a mais e ter o direito de enriquecer por seu mérito e fazendo o que mais gosta; seja na medicina, seja nos negócios, seja no esporte. E em Cuba, esses esportistas não têm esse direito, igualmente a quase toda a população, além de sofrerem a ausência de liberdade.
Então, quando esses atletas têm a oportunidade de fugir da prisão cubana, o fazem. Para evitar as fugas, o governo cubano envia, junto às delegações, oficiais do exército cubano para tentar capturar esses atletas. Mas nem sempre os oficiais conseguem ter êxito e evitar a fuga. Recentemente, nos Jogos Pan-Americanos que estão sendo realizados em Toronto, no Canadá, os remadores cubanos Leosmel Ramos, Wilber Turro, Manuel Suárez e Orlando Sotolongo fugiram da delegação cubana e foram da cidade de Saint Catharines, onde estão sendo realizadas as provas de remo nos jogos, para os Estados Unidos. E na Copa Ouro de futebol, que está sendo realizada nos Estados Unidos, já desertaram os jogadores Ariel Martinez, Keiler García, Arael Arguellez e Darío Suárez. E na etapa norte-americana da Liga Mundial de vôlei, desertaram Felix Chapman e Inovel Romero – só para ficarmos em casos que aconteceram neste ano.
Não é a primeira vez e nem a última em que atletas cubanos fogem em busca de liberdade. Nos jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro em 2007, ficaram marcados os casos das deserções dos boxeadores Guilliermo Rigondeaux e Erislandy Lara, do jogador de handebol Rafael D’acosta e do técnico da equipe cubana de ginástica artística Lázaro Camellas. Estavam desertando tantos atletas que o governo cubano mandou um avião para buscar a delegação cubana antes do término dos jogos.
Mesmo o governo cubano permitindo a saída de atletas para o exterior desde o ano de 2014, ele só permite que os jogadores saiam para países aliados, como infelizmente, o Brasil, via Pacto Brasil Medalhas, e ainda com a família Castro levando parte do salário dos atletas. Apenas este ano, Raul Castro deve rever esse caso e refazer a partilha dos vencimentos dos atletas. Também somente agora ele passou a permitir que os atletas atuem por equipes mexicanas, canadenses e japonesas, mas essa lei serve apenas para jogadores de beisebol.
Mesmo sendo a mais antiga ditadura do mundo e um dos últimos países comunistas do globo terrestre, parece que o governo de Havana ainda não conseguiu incutir nas mentes dos cubanos que os dogmas ideológicos marxistas são mais importantes do que a liberdade.
Para se fazer justiça, lembremos que nos esportes, como em outros setores, os cubanos são ótimos nas funções desempenhadas. Só que fica a impressão de que são assim vitoriosos, como os gladiadores da antiga Roma, treinando sempre e sob os auspícios e ordens dos que detêm o poder. São nada mais que instrumentos de propaganda do regime. E quando conseguem escapar, esses atletas ainda são acusados de serem traidores da pátria, cujo governo se eterniza até os dias de hoje e insiste que têm de viver naquele paraíso. Queiram ou não queiram.