Dilma, vá embora

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Definitivamente, os noticiários não estão nada agradáveis para o PT e para o governo de Dilma Rousseff. Não se passa um dia, quase se poderia dizer que não se passa uma hora, sem que alguma informação extremamente constrangedora escancare mais um pouco o mar de lama que se avolumou em doze anos de um projeto de poder nefasto, iniciado já com o senhor Lula da Silva e com os delírios que os petistas vendiam nos tempos em que ainda não tinham as rédeas do poder. Hoje, quer nos parecer, para o nosso bem, começam a perdê-las de novo.

O andamento da Lava Jato, com a efetivação de prisões – especialmente a de Renato Duque, humilhado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM) em seu interrogatório, e que ainda, espera-se, terá muito a dizer -; a inclusão, enfim, de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT – frise-se, AINDA tesoureiro do PT – na lista de réus, diante das evidências mais cristalinas das doações indevidas feitas a seu partido; a questão do rombo no fundo de pensão dos Correios… A lista de absurdos não cessa de crescer. Para pôr uma cereja no bolo, o Tribunal de Contas da União afirmou, através de sua área técnica, após auditoria, aquilo que, fazia tempo, todos já sabíamos: a distribuição de material de campanha nas eleições passadas por parte dos mesmos Correios infringiu as regras eleitorais.

Esse quadro tenebroso de instrumentalização criminosa das estatais, que certamente ainda tem capítulos ocultos a serem descortinados, se soma à sua inevitável consequência, derivada também da conduta levianamente heterodoxa e populista da política econômica: a desvalorização significativa do real e o mergulho vertiginoso em uma crise que, não senhores, não é obra das “contradições cíclicas e internacionais do capitalismo”. É culpa nossa, de nosso governo federal, e somente dele.

Governo federal este também que, diante da exibição do ministro da Educação Cid Gomes, apontando o dedo para a bancada do PMDB, se viu posto contra a parede pelos figurões do grande partido fisiológico, que deveriam compor com a presidente, em sendo “situação”. Dilma sabia das limitadas possibilidades de retrucar e se viu submetida a uma chantagem. O ministro Cid se demitiu, após insinuar, sem citar nomes, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e seus colegas de legenda eram “achacadores”. Temos aí o retrato nítido de uma presidente frágil e alvejada pelos próprios próceres, mas resoluta, agarrada ao posto a que foi alçada e que não tem, como jamais teve, condições de ocupar.Temos uma presidente sitiada, incapaz de ir a parte alguma sem receber sonoras vaias – exceto se a polícia coibir a manifestação em espaço público e o evento for restrito a militantes e “movimento sociais”, como foi feito em recente visita da “mandatária” a Goiás.

Durante as manifestações de 15 de março, na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma paródia da famosa canção de Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”, se fez ouvir. Desta vez, no entanto, os versos mais fortes, em vez de serem entoados como um hino de oposição ao regime militar, diziam: “Dilma, vá embora, que o Brasil não quer você”. Um tapa com luva de pelica em quem, ainda hoje, insiste em falar que os protestos foram “vagamente contrários à corrupção”, quando está claro que, como deve ser para que atinjam resultados, eles têm um foco e um endereço certo para atingir: o Palácio do Planalto. Foco mais do que justo, por ser esse, por razões já denunciadas à exaustão, o entrave primordial a ser extirpado para que possamos ambicionar maiores objetivos no médio e longo prazo.

O Partido dos Trabalhadores conseguiu, através de Dilma Rousseff e dessa escalada singular de escândalos a que apenas a memória muito curta se poderia cegar, provocar contra si a maior mobilização cívica de rua – verdadeiramente espontânea – já vista em nossa terra. A isso se seguiu a estupefação das esquerdas, que se viram, de súbito, perdendo o monopólio do brado político em espaço público. O 15 de março foi uma demonstração retumbante de força de um Brasil que produz e que sente, que percebe, que sofre em ver prostituído por uma casta “cleptocrática” o resultado de seu esforço, e se cansou do silêncio e da omissão. O 12 de abril promete repetir ou superar o feito, em contraste com a difícil realidade de um Poder Executivo fatigado e moralmente em frangalhos.

Esse cenário de desmoralização é corroborado pela pesquisa CNT/MDA, que fala em 77,7 % de desaprovação à figura da presidente, em 59,7 % de apoio à ideia de um impeachment e em 66,9 % de descrença em relação às medidas do governo contra a crise. A avaliação positiva do governo ficou em 10,8 %. Como diziam os manifestantes cariocas do 15 de março, “o Brasil não quer você”.

Objetam os que perseveram na defesa de seu mandato, voltando-se contra o clamor e os interesses nacionais, que Dilma foi “legitimamente eleita” e que o grosso da pátria está seduzido por um injustificável golpismo. As mentiras desnudadas, que pintavam, na campanha eleitoral, um cenário utópico de uma nação de economia protegida e avanço sem sobressaltos, mas que caíram de pronto como um castelo de cartas em pouquíssimos meses – não seriam elas, elas sim, um “golpe”? Este governo e seus defensores e sustentáculos ideológicos, que nos dividiram a todos em “classes sociais” e “raças”, negando-nos a irmandade como filhos de um mesmo chão, encampados pela bandeira nacional, vêem hoje a “elite branca” se unir em profusão, multiplicar-se assustadoramente, e não encontram alternativa a não ser reduzí-la a “saudosistas da ditadura” e negar-lhe a legítima pertença ao povo brasileiro.

Acabou. Nada disso repercute mais positivamente, mesmo entre muitos dos que até há pouco se iludiam. Os sonhos que vocês venderam putrefizeram-se no lodo de hipocrisia e mentira com que vocês sedimentaram a trajetória de pouco mais de uma década de Brasil. Brasil que precisa respirar. Diante de tudo isso, há apenas uma atitude aceitável a tomar, por parte daqueles que nos envergonharam tão no âmago. Não adianta pedir “diálogo”; o tempo para isso já se foi há muito. Em nome desse Brasil, venho aqui fazer coro com o apelo de figuras como o senador Ronaldo Caiado, sem grandes esperanças de ser atendido.

Esse apelo é dirigido à presidente Dilma Rousseff. Não à terrorista marxista-leninista, que há pouco voltou a ladrar a falsidade de que combateu o regime militar em nome da democracia, quando a verdade é bem outra, e seus próprios companheiros já o admitiram. Não àquela que se sujeitou a ser um inapto fantoche de um esquema macabro de conquista e ocupação de espaços. Não. Esse apelo vai para a única que talvez tenha alguma mínima chance de ouví-lo: a Dilma mulher, a Dilma mãe, a Dilma avó. Aquela de quem ainda se pode esperar algum respeito próprio. Presidente, dê nova destinação ao seu lugar na História. RENUNCIE JÁ! “Vá embora”! Ponha fim ao que já se arrasta moribundo. Isso permitirá a preservação de um quê de dignidade cuja falta, mais cedo ou mais tarde, se fará pesar. Está em suas mãos. Estará presente a sensibilidade necessária para isso?

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

4 comentários em “Dilma, vá embora

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    26/03/2015 em 6:21 pm
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    Acho que a intenção do Geraldo Vandré nunca foi fazer um “hino contra o regime militar” mas sim um hino em homenagem aos militares. Veja ele chorando ao ver um policial militar cantando a sua música em um evento e indo abraçar o policial. Veja também depois a entrevista de Geraldo Vandré à Globo News.

    Isso é propaganda esquerdista.

    • Lucas Berlanza
      27/03/2015 em 10:07 am
      Permalink

      Talvez não fosse mesmo, Guilherme, mas foi interpretada e encarada assim.

  • Avatar
    26/03/2015 em 2:05 am
    Permalink

    Opa Lucas,
    Obrigado pelo excelente artigo. Com certeza, a cada edição sua e dos demais que contribuem com o IL, a chama libertária é mantida e alimentada na sociedade brasileira.

    Abcs Leonardo Alcantara

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