Dissecando a Copa
Desde bem antes, as críticas foram justas, mas os temores não.
Foram justas as críticas sobre os custos dos estádios em relação às tantas carências de infraestrutura do país.
Foram injustos os temores de que haveria caos nos acessos aos jogos, brigas nos estádios e falta de organização. Injustos porque ignoraram que estavam previstos esquemas especiais nas cidades dos jogos, da decretação de feriados à oferta de linhas especiais de transporte; e que o público nos estádios seria composto por indivíduos, não por torcidas organizadas.
A Copa do Mundo aconteceu exatamente como previsto por qualquer pessoa livre de ranços ideológicos. Foi apenas um grande evento esportivo que acontece periodicamente há quase um século, organizado por uma empresa que, queiram ou não, sabe fazer o que se propõe – um campeonato de futebol.
Os “Legados da Copa” são:
1 – A entrega de uma pequena parte das obras de infraestrutura prometidas;
2 – Os estádios que, se forem administrados pela iniciativa privada, serão utilizados também para outros eventos;
3 – O entendimento por parte da classe política de que hoje, cada passo, gesto, desvio e lorota têm repercussão por toda a sociedade através internet, e que para um político ser aplaudido por um público que não seja seus militantes, ele terá que realmente fazer algo além de discursos e promessas;
4 – A derrota da seleção tirou 90% do discurso populista do PT. Infelizmente, num país tão pobre e corrompido intelectualmente como o Brasil, só mesmo uma desilusão no futebol para fazer a sociedade abrir os olhos e ver que não vive no paraíso no qual pensa viver, nem que as coisas estão sendo construídas neste sentido.
A pior coisa da Copa não foi a vergonhosa derrota da seleção nem os absurdos superfaturamentos das obras, mas sim o PT incitando publicamente a distinção racial e social como forma de se defender das críticas e das vaias que estão longe, muito longe de serem injustas.
Esta Copa expôs claramente que indivíduos convivem em harmonia mesmo com todas as diferenças que possam ter entre si. As festas nas ruas reuniram milhões de pessoas, ricos e pobres, negros e brancos, vestindo as mais diversas camisas, mas nem por isso querendo matar uns aos outros. Os poucos casos de violência foram causados quando grupos de torcedores que se organizaram. Ou seja: enquanto indivíduos se respeitam, grupos tendem a desafiar uns aos outros.
A lição que devemos levar é que a sociedade deve ser moldada para se reconhecer como um agrupamento de indivíduos, não de grupos ou classes; e que o papel do Estado não é o de incitar a distinção de grupos, mas sim o de impedir que isso ocorra, possibilitando que todos se enxerguem e se comportem apenas como indivíduos.