Economia, política, incerteza, euforia. Ou: Será que o Brasil tem jeito?

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Emoção é o que não falta atualmente em Pindorama.  Nossa imprensa não tem do que reclamar.  Na seara econômica, o IBGE divulgou anteontem o resultado do PIB no terceiro trimestre do ano.  Um desastre de proporções oceânicas: um tombo de 1,7% em relação ao já fraquíssimo desempenho no trimestre imediatamente anterior, e de impressionantes 4,5% em relação ao mesmo período de 2014, que tampouco foi lá grandes coisas.

Quanto se olha os números pelo lado da oferta, por setor, a imagem é de um filme de terror.  A agropecuária, que até bem pouco tempo ainda era uma válvula de escape, caiu 2,4% em relação ao período anterior.  Na indústria, que já vem tendo desempenhos muito fracos há tempos, a queda foi de 1,3%, e nos serviços, setor mais representativo do índice, o tombo foi de 1%.

Mas é quando se olha os números pelo lado da demanda que podemos visualizar quão absurdos são os tempos atuais em Pindorama.  O consumo das famílias caiu pelo terceiro trimestre consecutivo: -2%, -2,4% e -1,5% respectivamente, num claro sinal da baixíssima expectativa dos consumidores em relação ao futuro.  Já os investimentos, pasmem, caíram pelo nono trimestre consecutivo.  O último trimestre em que houve crescimento dos investimentos foi o segundo de 2013.  A queda agora foi de 4% em relação ao trimestre anterior, cujo resultado já havia sido negativo em 6,6%.  Ou seja, os investidores estão parados, a espera do que vem pela frente.  O “espírito animal” do empresariado foi contaminado pelo medo e pela incerteza.

A única variável da demanda que apresentou crescimento foi justamente aquela que insiste em não adequar-se à realidade do momento: o consumo do governo aumentou 0,3% em relação ao segundo trimestre, em que já havia crescido 0,7%.  Não por acaso, portanto, as contas primárias do governo, que deveriam fechar o ano com um superávit de 55 bilhões, de acordo com a lei orçamentária aprovada pelo Congresso, vão fechar com um déficit de 120 bi, o que nos faz pensar que o temos aí não é um mais um governo meramente incompetente (desculpem o pleonasmo), mas um verdadeiro desgoverno.

Um dia após a divulgação do desastre do PIB, mais um terremoto sacudiu Brasília, agora no campo político.  Eduardo Cunha finalmente resolveu acolher um dos pedidos de impeachment da presidente da república.  Impossível saber o que vai acontecer daqui para frente, mas, num primeiro momento, a simples possibilidade de que Dilma possa ser defenestrada do cargo num prazo relativamente curto – e não apenas daqui a três longos anos – já foi suficiente para animar o mercado.  A Bolsa de valores abriu o dia em alta de 4,73%, com destaque para as ações de empresas estatais, principalmente as da combalida Petrobras.  Já o dólar caía quase 2%, num claro sinal de otimismo dos investidores.

Normalmente, a notícia da abertura de processo de impeachment contra o presidente da república, em qualquer país do mundo, teria um efeito devastador sobre os mercados, já que tudo que os investidores não querem é um ambiente inseguro e imprevisível.  Estabilidade e segurança jurídica e econômica são tudo que os investidores desejam.  Não aqui.  O governo que aí está é tão ruim, tão confuso, tão imprevisível, tão inepto, tão desastrado e, ao mesmo tempo, tão prepotente, autoritário e intervencionista, que a simples possibilidade de sua queda anima o mercado e melhora as expectativas.

Alguns amigos andam temerosos de que um eventual impeachment da presidente possa servir de escada para a volta de Lula, em 2018.  Acreditam que o PT estaria jogando Dilma às feras para salvar a pele de Luís Inácio e do partido.  Acham, com certa razão, que os problemas do país são de tal magnitude, que nenhum presidente, por mais hábil e bem assessorado que fosse, conseguiria resolvê-los em dois ou três anos, e que o “molusco” e sua trupe de marqueteiros se aproveitariam disso para fazer oposição ferrenha e voltar por cima.

Eu, ao contrário, sou daqueles que acham que Lula é carta fora do baralho.  Os indícios contra ele nas operações Lava-jato e Zelotes são fartos e é muito provável que a justiça coloque as mãos nele, mais cedo ou mais tarde, até porque, muitos de seus amigos próximos estão presos e provavelmente ansiosos para colaborar com a justiça.  Porém, mesmo que isso não aconteça, sua popularidade hoje não é nem sombra do que já foi um dia.  Quem poderia imaginar, por exemplo, ver Lula ser vaiado no Acre?

Agora, se eu estiver errado, e vejamos Lula realmente conseguir se reeleger em 2018, seja sucedendo Dilma ou alguém colocado na presidência em seu lugar, aí, meus amigos, a única saída dos homens decentes de Pindorama será mesmo o aeroporto.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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