Entulho autoritário pode virar patrimônio cultural
O programa “A Voz do Brasil” foi ao ar, pela primeira vez, em 1935, em plena ditadura do Estado Novo. Já se vão, portanto, quase oitenta anos que o brasileiro é obrigado a pagar e aturar esse verdadeiro entulho autoritário, com sucedâneos no mundo apenas em ditaduras como a cubana, a chinesa ou a norte-coreana.
E, quando a gente pensa que está perto o dia em que nos livraremos desse anacronismo entediante, descobrimos que nossos digníssimos representantes no Congresso Nacional trabalham com afinco, na calada da noite, para eternizá-lo.
No início desse mês, contrariando o parecer do Iphan, a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado votou favoravelmente ao projeto de lei nº 19/2011, de autoria da ex-senadora Marinor Brito (PSOL), que transforma “A Voz do Brasil” em “patrimônio cultural imaterial do Brasil”. É mole ou quer mais?
Como bem destacou o jornal Estado de São Paulo em editorial:
“O problema todo é o que certos congressistas entendem por “fonte de informação”. Para boa parte deles, os meios de comunicação não lhes dão o espaço que eles reivindicam para propagandear suas supostas qualidades, preferindo investigar e divulgar seus malfeitos. Logo, A Voz do Brasil seria a “única fonte de informação” para contra-arrestar as denúncias que jorram cotidianamente do noticiário independente.
“Além disso, o programa serve para que inexpressivos políticos tenham seus segundos de exposição gratuita, em rede nacional. É o que diz a justificativa do projeto, ao argumentar que A Voz do Brasil leva “a todos os rincões do País as notícias dos feitos parlamentares, independentemente de cor partidária, nem sempre alvo da chamada imprensa tradicional”.
“Eis aí o busílis. A Voz do Brasil é danosa por ser uma imposição diária da transmissão de “notícias” chapa-branca, que não têm a menor importância, a não ser para um punhado de políticos.”
A nós, brasileiros sem voz, só resta a alternativa de desligar o rádio ou colocar um CD para tocar todos os dias, às 19 horas em ponto.