Ideias x Cusparadas: o Brasil paleolítico no século XXI
As redes sociais estão demonstrando a absoluta e irrestrita falta de pensamento crítico na sociedade brasileira. Não me refiro aos iletrados, que amargam as consequências de um Estado inchado que foge de suas atribuições. O objeto dessa constatação são os novos “pensadores” e “debatedores” políticos e econômicos, além dos nossos patéticos formadores de opinião.
Trata-se de uma turma que despertou tardiamente para determinados questionamentos. Sofrendo as consequências de uma “síndrome de abstinência”, causada por uma política econômica populista, todos saíram dando azo a suas emoções, e, tal qual em qualquer esporte, escolheram seus respectivos times. É tudo paixão, nada mais.
Vi, por exemplo, gente boa defendendo o fim dos partidos comunistas no Brasil. Noutros termos, aceita-se a intervenção estatal para banir um partido que – queiramos ou não – representa as convicções de uma parcela da população. Vi, também, alguns defendendo a declaração do Deputado Jair Bolsonaro, em seu voto pelo impeachment, sobre a ditadura e o General Brilhante Ustra. Vi, por outro lado, gente preconizando a cassação do referido Deputado pelo seu dito desassisado.
Não fosse tudo isso, outros tantos – em um processo regressivo ao homem de neandertal – justificam as “cusparadas” do Deputado Jean Wyllys e do ator José de Abreu. Pior, há pessoas – por quem sempre tive como respeitáveis – “sustentando” posições baseadas na petição de princípio – dando por demonstrado o que deveriam demonstrar.
Enfim, o Brasil tornou-se um gigantesco estádio de futebol. As paixões suplantaram o debate de ideias. Torcer, urrar, berrar, xingar e cuspir são a ordem do dia no pseudodebate público brasileiro. Em pouco tempo, se seguirmos nesse trilho, vamos andar de quatro e uivar para a lua cheia.
A situação é absolutamente lamentável, e, se se der a devida atenção, é fácil perceber que, nesse quadro de regressão civilizacional, as pessoas defendem a intervenção estatal como solução para o caos. Tudo é muito sutil, mas dá para perceber nas entrelinhas – ou, nos perdigotos – um pedido de socorro ao “Big Brother”. Queremos, então, mais Estado?
Infelizmente, não vejo uma mudança nesse processo de volta ao passado. Se economicamente já retornamos à década de 1980, no campo do debate público estamos no período paleolítico. A coisa é grave, e, sinceramente, não tem uma solução imediata e fácil. Além de reformas políticas e econômicas, o Brasil precisa dar um “cavalo de pau”, com ampla participação da elite pensante – não dos peseudointelectuais –, de modo a restabelecer o debate, ao menos, em um nível próximo da Idade Antiga.