Identidade e ideologia de raça – existe transracialidade?

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michael-jacksonpretoOntem tivemos um debate entre o Presidente do Instituto Liberal do Nordeste, Rodrigo Marinho, e a Coordenadora de Ações Afirmativas da UECE, Zelma Madeira, sobre cotas “raciais”, onde o primeiro argumentava contra as cotas raciais e a segunda a favor. O Presidente do Ilin trouxe uma série de ótimos argumentos contra as cotas raciais, mas ficou faltando um ataque específico a um argumento trazido pela exaltada professora Zelma: a de que raça não é uma questão biológica, mas uma questão ideológica.

Essa é uma questão que não pode ser batida: a construção da visão de raça, para os esquerdistas, é ideológica, mais precisamente a ideologia marxista do conflito de classes. Raça não é raça biológica, raça é CLASSE. E quando se divide a sociedade em classes, então pode se argumentar que uma classe está oprimindo a outra e que, através da consciência de classe, ou seja, da ideia de que um indivíduo está inserido numa classe e só faz sentido quando pertence a essa classe, o oprimido pode usar legitimamente da estrutura estatal de violência para reprimir a opressão, ainda que essa opressão esteja sendo operada apenas na mente dele.

A questão da identidade de raça não parece muito diferente da questão da identidade de gênero. De acordo com a teoria da identidade de gênero, se é homem ou mulher não pela decorrência lógica da questão biológica (ter cromossomos XX ou XY e os genitais correspondentes), mas sim pelo modo como o indivíduo se autoidentifica, ou seja, pela sua consciência de classe. A partir daí, grupos de esquerda argumentam que é justo que uma pessoa “mude de gênero” através de uma cirurgia autocorretora, se tornando um “transsexual”, ao passo que alguém que se mantém no seu papel de gênero original é um “cissexual”.

Offspring-08-Pretty-Fly-For-A-White-GuyPor outro lado, tal raciocínio não se aplica à questão racial. Ela é estanque. Um homem branco, por exemplo, não pode ter identidade negra e se autodeclarar negro para usar de cotas raciais na obtenção de empregos públicos e vagas universitárias. Isso seria má-fé e fraude. Para pessoas como a professora Zelma, raça é uma questão ideológica, mas se um branco se declara ideologicamente negro, ele está incorrendo em fraude, o que é um contrassenso. Para utilizar um termo típico do movimento político transsexual, na questão racial o branco não tem “passabilidade”, ou seja, ele não consegue ser objetivamente visto como um negro, e portanto, ele não é negro. A questão da passabilidade, na identidade de gênero, é um dos conceitos mais combatidos pelo movimento transsexual, mas na questão racial, o branco é objetivamente opressor. Para o esquerdista, de maneira bastante hipócrita, não existe “transracialidade”, apenas “cisracialidade”, ou seja, a identidade racial posta pela sociedade sobre você é a identidade que você levará por toda a vida.

Não se pode esquecer que a discriminação esquerdista dentro do seu próprio raciocínio dialético já vem desde Marx, quando o filósofo alemão argumentou que a mera falta de propriedade sobre os meios de produção não faziam de um trabalhador um proletário. Ele precisava da tal “consciência de classe”. Sem essa consciência, ele seria um “lumpemproletário”, um trabalhador a serviço do projeto de poder burguês.

Portanto, nunca é demais lembrar, todos esses conceitos “cis” e “trans” ou “lumpem” e “não-lumpem”, seja no campo racial, sexual ou até econômico, pouco tem a ver com a real emancipação do indivíduo e exercício de sua liberdade, mas sim a ver com projetos políticos de dominação política, social, cultural e econômica. Não comprem esse engôdo: vivam a vida como bem quiserem e lutem sempre em favor da tolerância e pelo tratamento isonômico do Estado frente a todos os cidadãos, não importando raça, sexo, condição econômica, opção sexual ou qualquer outra característica pessoal.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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