Imigrantes entre a direita xenófoba e a esquerda anti-ocidental

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criancasiriaConsideramos estas verdades como auto-evidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes são vida, liberdade e busca da felicidade.”

Essa frase, base da declaração de independência dos Estados Unidos da América, precisa ser revisitada de tempos em tempos, para lembrarmos que existem alguns valores humanos fundamentais e inegáveis.

A comovente foto do corpo sem vida do menino sírio, estirado na costa da Turquia, é certamente um motor de reflexão sobre esses direitos inalienáveis. Eu, como pai de um filho de três anos, imediatamente enxerguei naquele menino todo o amor que tenho pelo meu filho, e fiquei despedaçado.

A crise humanitária pela qual passa o Oriente Médio não é de hoje e é muito mais complexa do que um artigo poderia explicar ou aprofundar. São problemas de ordem religiosa, cultural e econômica que, quanto mais países estrangeiros tentam intervir, pior fica. Mas certas coisas podem ser ditas, ainda que de maneira superficial, baseadas em simples observação dos fatos.

Essa família destruída, de origem Síria, é apenas mais um grupo de pessoas que foram engolidas por uma horrível guerra civil, cuja ligação direta com a invasão americana ao Iraque é inegável. A queda de Saddam Hussein resultou em um Iraque dilacerado entre sunitas, xiitas e curdos. Dessa divisão, dentro da facção sunita, nasce o Estado Islâmico e seu fundamentalismo total. A guerra se alastra para países vizinhos, em especial a Síria, após a “Primavera Árabe”, e hoje a Síria está fatiada basicamente entre a coalizão de Bashar Al Assad (com apoio de Hezbollah e Irã), uma oposição heterogênea, o Estado Islâmico e os curdos, custando centenas de milhares de vidas e de desabrigados.

Muito se critica uma suposta complacência liberal/libertária de não-intervenção quanto a países ditatoriais, como existia no Iraque de Saddam e na Síria de Assad, ambos com origem no partido socialista pan-árabe Baath. No entanto, as intervenções do ocidente no local resultaram em morte e em piores formas de dominação de homens sobre homens, além da total destruição de qualquer resquício de direitos humanos.

O que fazer quando, objetivamente, um tirano é menos cruel que uma concorrência de micro-estados assassinos? Não tenho uma resposta. Se o objetivo é levar esses direitos fundamentais da vida, liberdade e busca pela felicidade, a povos que desconhecem esses princípios ocidentais, parece-me que não estamos fazendo direito esse trabalho através da invasão e desmantelamento de governos estabelecidos e mantenedores da ordem local.

E quando o resultado desse caos, cuja fogueira recebeu aditivo ocidental, bate na nossa porta, o que devemos fazer?

Parece-me também que rechaçar tais pessoas, deixando-as sem vida numa costa qualquer, não é uma solução aceitável. Foi negado ao menino sírio a vida, a liberdade e a busca pela felicidade, apenas por uma questão de nacionalidade e conveniência política.

Se a preocupação de países ocidentais é que essa “invasão árabe” à Europa vai destruir a cultura europeia que pôde criar esses direitos fundamentais, a resposta mais simples é que a maioria desses árabes que estão tentando entrar na Europa já estão ávidos por esse direito e pelo nosso estilo de vida. E a minoria que pensa diferente, querendo subverter os nossos valores e cultura, precisa ser investigada, exposta e presa.

Só que, do ponto de vista de discurso político, essa maioria de estrangeiros que busca se adaptar na cultura ocidental e beber de nossos valores está totalmente desamparada.

A direita europeia, muito conservadora e pouco liberal, avessa às contribuições culturais e econômicas que esses imigrantes podem agregar, vende um discurso anti-imigratório, xenófobo e até mesmo racista/etnicista, buscando endurecer leis que resultam em crianças mortas na costa mediterrânea.

A esquerda europeia, socialista e maior inimiga da civilização ocidental e de seus valores autoevidentes (inimiga muito maior, mais rica, mais poderosa e mais perigosa que os pobres imigrantes árabes), sob um argumento supostamente integrador, estimula e até financia a minoria árabe fundamentalista, anti-ocidental e anti-direitos fundamentais, o que faz todo o sentido, já que ambos os grupos, esquerda europeia e fundamentalistas islâmicos, possuem os valores e a cultura ocidental como inimigos preferenciais em comum, e sua prática política resulta em terrorismo interno e crianças mortas nas ruas europeias e orientais.

É urgente o fortalecimento de uma corrente política europeia liberal, que abrace os imigrantes que têm sede dos nossos valores, da nossa estabilidade política e do livre-mercado, que rechace a xenofobia da direita ultraconservadora e combata a política anti-ocidental “multiculturalista” da esquerda socialista.

Precisamos, para ontem, de um liberalismo integracionista europeu anti-fundamentalista islâmico, anti-xenofobia e anti-socialista, baseado em uma coisa que anda em falta no mundo: bom-senso.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

4 comentários em “Imigrantes entre a direita xenófoba e a esquerda anti-ocidental

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    05/09/2015 em 3:28 am
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    O problema não é a imigração, o problema é os imigrantes (independente de serem muçulmanos ou não) irem para Europa para parasitar a classe produtiva europeia através do wellfare state. No fundo o sentimento anti-imigração se resume a isso, mas ai é claro que os grupos racistas, xenofóbicos, etc se aproveitam da situação para deixar suas ideias em evidência e ganhar apoio das pessoas que já estão sobrecarregadas com o estado e seus parasitas e não querem sustentar mais milhões de uma só vez. Resumindo ou se tem uma nação de imigrantes como os EUA (no início onde mantinha suas fronteiras abertas) sem wellfare state ou se tem uma nação com wellfare state com leis severas de imigração. Não é possível ter os dois ao mesmo tempo, e qualquer tentativa de faze isso será desastrosa por causa do inevitável antagonismo dos nativos com os imigrantes quando o estado começar a fali (isso sem mencionar as diferenças culturais).

    Acho um pouco ingenuo essa ideia de que a maioria dos muçulmanos querem ir para Europa desfrutar da liberdade europeia e dos valores ocidentais (para mim é meio óbvio que só estão fugindo da guerra, aqueles que quisessem liberdade teriam fugido para Europa antes). Não existe nenhuma evidência que isso seja verdade, pelo contrário tanto nos EUA quanto na Europa os imigrantes muçulmanos (maioria pelo menos) se juntam em comunidades fechadas culturalmente e fazem de tudo para não serem contaminados pelos costumes ocidentais. Isso acontece com todo grupo de imigrantes, eles procuram semelhantes, assim que nascem os bairros chineses, japoneses, alemães, etc da vida, mas geralmente leva-se anos as vezes décadas para se formar uma comunidade (o que fornece tempo para a cultura “invasora” assimilar valores da cultura dominante e assim conviver pacificamente). Aqui está se vendo uma movimentação de milhões de pessoas que não valorizam e até desprezam a cultura dominante que os recebem (quando não a culpam por suas mazelas). achar que a Europa será a mesma (que ambos os lados vão dá as mãos e viver pacificamente em harmonia no futuro com todas as diferenças) depois disso é ingenuidade. Mas isso é até bom, que o povo europeu coma o pão que o diabo amaçou (tanto com a falência do wellfare quanto os conflitos étnicos causados pelo multiculturalismo), assim quem sabe aprendem que a esquerda não presta.

    P.S. Como diz o texto já existem milhões de muçulmanos na Europa, e o convívio com eles não é dos melhores e eles não estão se adaptando e assimilando os valores ocidentais.

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      05/09/2015 em 10:09 am
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      Acho que você pode estar confundindo sírios com uma caricatura do muçulmano fundamentalista. O perfil desses imigrantes é outro.

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      05/09/2015 em 10:31 am
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      A maioria quer, sim, ir para a Europa para fugir das guerras e conflitos, se estabelecer e trabalhar como um cidadão europeu. Mas também é certo que há uma parte menor que faz o que tu dizes e são esses poucos barulhentos que criam a má fama do imigrante. A Europa está cheia de imigrantes (assim como os EUA) que levam uma vida normal e pacífica.

  • João Luiz Mauad
    03/09/2015 em 10:33 pm
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    Excelente, meu caro Bernardo. Faço minhas as suas palavras e compartilho a sua revolta.
    Forte abraço

Fechado para comentários.

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