Liberalismo brasileiro: entre o enlatado e a jabuticaba
O liberalismo está em alta no Brasil nos últimos tempos. Cada vez mais autores como Milton Friedman, Ludwig von Mises, Friderich von Hayek, Thomas Sowell e Frederic Bastiat tem seus livros bem vendidos e tendo suas ideias expostas a variados públicos. Mesmo no ambiente academico, as ideias da liberdade tem ocupado seus espaços, alterando lentamente um ambiente hegemonico do pensamento socialistas, desde os sociais-democratas até a esquerda marxista. Todavia, vive-se um dilema de como se por em prática este ideário em nosso país.
Muitos dos que defendem o conjunto de ideias do liberalismo acabam por falar da aplicação de um conjunto de conceitos de forma genérica, utilizando-se de argumentos e aplicações feitas em outros lugares sem antes observar a realidade brasileira. Imaginando que a cultura e a realidade brasileira são as mesmas de países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Hong Kong e Nova Zelândia. E, ainda, ignoram o fato de que reformas não podem vir da noite pro dia. Um liberal por convicção não pode ser um agorista que abusa do radicalismo para expor suas ideias e, sim, uma pessoa prudente, com a consciência de que os resultados vem aos poucos e que as batalhas são árduas para que se tenha um país mais livre.
A consequência agorista é a seguinte: Sem perceber as questões locais, se propõe soluções fundadas, apenas, no fato de terem sido aplicadas em outros lugares. Não se pensando no ônus gerado pelas aplicações de algumas propostas. Mesmo que tais ideias tenham tido sucesso em outros lugares, deve levar-se em consideração que em todos os lugares onde as ideias liberais deram certo foram aplicadas de acordo com a cultura e realidade locais.
Por isso, não se deve tornar o liberalismo brasileiro um produto enlatado “anglófono”, algo importado e aplicado sem restrições em seu destinatário. Por outro lado, não se pode fazer do liberalismo brasileiro uma jabuticaba: algo que só existe aqui, ignorando as tendências teóricas e práticas vindas do exterior. Pois não deve-se relegar a importância dos conteúdos importados, mas, sempre, buscar um modo de conjugar conteúdo e experiências internacionais com a realidade brasileira.
A cultura brasileira tem ao mesmo tempo traços do liberalismo vindos da nossa herança monárquica e uma herança patrimonialista, com adições de positivismo e o populismo político e fiscal. Uma “herança maldita” que deixou na dificuldade dos dias de hoje e que precisamos por um fim. A missão dos liberais é estar de mãos dadas com a realidade dos municípios, estados e do país e com as bases teóricas e práticas do liberalismo. Para que não tenhamos que ficar entre a jabuticaba e o enlatado.