Marchando pelo direito de ser gastador
Neste último fim de semana, em Londres, 50 mil pessoas fizeram uma passeata, sob a liderança do humorista Russell Brand, pelo fim das políticas de austeridade no Reino Unido.
A dívida atual do Reino Unido é de 2,7 trilhões de dólares, e equivale a 75% do PIB nacional. A dívida cresceu, nos últimos anos, a uma taxa de 11% do PIB por ano, o que forçou o governo britânico a adotar medidas de austeridade. Com tais medidas, espera-se que o déficit público anual termine por volta de meio de 2019, o que significa não o fim da dívida pública, mas apenas o fim do seu aumento.
Essa situação é realmente dramática. Imagine você, caro leitor, se todo ano você gastasse muito mais do que ganha trabalhando e que, em certo momento, a sua dívida fosse o equivalente a 75% de tudo o que você ganha por ano. Em algum momento não haveria mais como refinanciar essa dívida e a pessoa quebraria, gerando todo o tipo de pobreza e infortúnio decorrente das execuções que porventura fossem feitos.
Esses protestos, embora democráticos e honestos, estão fundamentalmente exigindo que o Governo gaste o que não tem. E se você gasta o que não tem, precisa pegar emprestado com quem tenha, com juros e data de pagamento, que ficam cada vez maiores se a sua capacidade de pagamento se torna menor, em um círculo vicioso de endividamento e pobreza.
A economia sempre reclama o que é sua. Cabe ao gestor público duas escolhas: ser previdente e gerir a dívida de maneira responsável, sendo o condutor do processo de negociação e estabilização fiscal, ou ser gastador e deixar que os emprestadores deixem de emprestar por falta de confiança, gerando um choque de gestão inevitável e muito mais traumático.
A Argentina escolheu a segunda opção e agora colhe os frutos amargos dessa escolha, que essas 50 mil pessoas também querem escolher, mas que o governo britânico resolveu lutar contra, o que faz muito bem.
O Brasil vive o mesmo problema. O que vamos escolher?