A Mensagem do Corvo: Carlos Lacerda e “A Missão da Imprensa” (Final)

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Sexta e última parte da série sobre o jornalista e político brasileiro Carlos Lacerda

Considerações finais

lacerda5No decorrer desta análise, observamos como um dos personagens mais importantes da história política contemporânea compreendia os deveres e atribuições da imprensa, sendo ele mesmo um jornalista. Identificamos que seus pontos de vista de inspirações políticas liberais e conservadoras faziam-no ver no jornalismo um mecanismo de potencial emancipador para as massas – no sentido de aprimorar-lhes as aptidões e direcioná-las ao rumo certo -, na medida em que transmita a produção simbólica e informativa de uma elite cultural. Essa compreensão se dá dentro de sua ótica da “opinião pública”, que deveria ser exatamente o resultado desse processo.

No exercício desse trabalho, o jornalista atuaria como um “zelador”, fiscalizando e estimulando, por exemplo, o cumprimento de promessas políticas ou a realização de obras públicas, na comunidade ou no país. Para tudo isso, valorizava a ética e a qualificação profissional – características típicas do tipo de postulado que defendia em suas dissertações políticas, no que ficou conhecido como o “moralismo udenista”.

Diante desse panorama, toda a jornada que se pode empreender, mergulhando na trajetória de Carlos Lacerda, em sua imbricação com a atividade jornalística e em sua compreensão da imprensa como um encargo messiânico, revela apenas que a complexidade desse personagem singular de nossa história sócio-política não pode ser facilmente, tampouco completamente, amputada, para que seja observada apenas em um de seus elementos formadores.

Nunca será demais repetir que o Lacerda político é o Lacerda intelectual, é o Lacerda orador, é o Lacerda que foi comunista e se converteu em porta-voz de pensamentos à direita. Todos esses são também o Lacerda jornalista, que representa o mais pleno amálgama de todos os outros, e que é o mentor de todos eles – a matriz por trás da figura das mais importantes da história do Brasil do século XX. Tudo que Lacerda foi orbitou em torno de sua vocação.

O que nos anima, numa profissão que é ao mesmo tempo uma vocação, profissão que se não escolhe porque se impõe e nos agarra e não mais nos deixa livres de sua marca, e nos reduz a um pobre esfarinhador de ideias que desejaríamos altas, fortes e bem compostas, mas que são apenas as miudezas de uma experiência bem sofrida, é ainda a lição dos maiores, dos que antes de nós, melhor do que nós, lhe deram expressão mais digna do vosso aplauso do que vossa paciência. (LACERDA, 1950, p. 77)

Considerável parcela dessa importância advém da perspectiva messiânica com que Lacerda encarava seu ofício, afirmando o próprio enriquecer o significado de sua vida a partir dele. Como ele conclui também em A Missão da Imprensa: “O jornal é uma obsessão. É a obra de uma vida, a mais bela obra de uma vida, que por via dela, adquire então pleno sentido”.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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