Novas eleições: Uma péssima ideia
O esforço do Partido dos Trabalhadores em tentar interromper o processo de impeachment para que sejam realizadas novas eleições esconde uma estratégia que a essa altura dos acontecimentos já deveria ser facilmente identificada pela sociedade. O PT quer, mais uma vez, utilizar a máquina estatal para se preservar no poder, com uma segunda conveniência: Uma vez que Lula seja lançado candidato, automaticamente ele passa a ser protegido de qualquer ação da justiça. Não poderá ser preso.
Será que preciso lembrar que grande parte do dinheiro desviado da Petrobrás e de outras estatais serviu para alimentar a máquina de propaganda petista?
Precisamos ter um pouquinho de maldade no coração para visualizar as intenções do PT. Não é o espírito democrático que move o partido. Se dependesse de seus líderes e de boa parte de seus militantes, o Brasil já teria sido transformado numa ditadura. Plantando a ideia de novas eleições, o PT tenta fazer mais uma vez o que sempre fez: Transformar os mecanismos democráticos em mecanismos de poder.
Há outra razão para que não permitamos novas eleições. A economia não tem condições de esperar mais alguns meses por uma indicação sobre o futuro. A dívida pública aumenta em R$ 2 bilhões por dia enquanto Dilma se mantém na presidência. Dezenas de milhares de pessoas perdem o emprego a cada semana. Ninguém compra. Ninguém contrata. Todos estão esperando por um novo governo. O Brasil tem pressa.
Quanto ao insistente e cretino argumento de que a câmara dos deputados não tem legitimidade para julgar Dilma, já que muitos parlamentares são investigados por corrupção, recorramos à história:
No impeachment de Fernando Collor, o congresso também era ocupado por uma massa de deputados investigados por corrupção. Nos anos seguintes, alguns foram presos, outros renunciaram e muitos conseguiram se safar e até, muitos anos depois, integrar a base de apoio do governo petista, como Roseana Sarney.
O presidente da câmara em 1992 era Ibsen Pinheiro, cassado pouco depois do impeachment de Collor por integrar o maior escândalo de corrupção até então, o dos Anões do Orçamento. Apesar disso, ninguém se sentiu constrangido ao ver um congresso ficha suja tirar do poder o primeiro presidente eleito pelo voto direto, após a ditadura. Apenas Collor chamava o impeachment de golpe.
Quanto ao rito, existem diferenças que ajudam a refutar a tese de golpe:
Em 1992, o STF concedeu total liberdade ao presidente da câmara para determinar o desenrolar do processo. Em 2016, o STF determinou como a câmara deveria proceder.
Em 1992, as manifestações em favor do impeachment começaram a partir da mobilização dos partidos de oposição. As manifestações pró-impeachment de Dilma começaram quase dois anos antes de os partidos de oposição acolherem a ideia.
Em 1992, bastaram exatos 30 dias para o processo de impeachment ser aceito, discutido e votado na câmara e no senado. O processo de Dilma foi aceito pela câmara em dezembro de 2015 e ainda tramita.
Em 1992, Fernando Collor não teve direito de defesa no congresso. Em 2016, Dilma conta com amplo espaço para defesa, liderada formalmente pelo ministro da AGU que atua como advogado pessoal da presidente.
Aos que chegam ao cúmulo de dizer que a votação deve ser anulada porque grande parte dos parlamentares dedicou o voto à família e não ao mérito da questão, lembro que a mesma coisa ocorreu em 1992, com o petista Jaques Wagner sendo um desses parlamentares.
Precisamos nos lembrar de mais uma coisa: Naqueles dias, os parlamentares do PT não eram alvo da polícia porque ainda não haviam chegado ao poder executivo. Hoje, grande parte deles só está em liberdade por conta do foro privilegiado, a mesma prerrogativa que mantém em liberdade Eduardo Cunha e tantos outros, alinhados ou não ao governo.
Fato: O atual congresso e o Partido dos Trabalhadores refletem um a imagem do outro.
Sim, vivemos uma trágica realidade política. Um congresso sujo. Um governo sujo. Partidos sujos. Um futuro incerto. O que nos resta é uma constituição e algumas instituições que tentam cumpri-la. A limpeza precisa começar por algum lugar. Por onde enxergamos. O governo é esse. A presidente tem nome e responsabilidades. Fraudou as contas públicas. Desrespeitou leis. Mesmo assim, continua culpando os outros pelos seus erros, insultando a justiça e nossa inteligência, mentindo o tempo todo e ainda desmoralizando o país diante da imprensa internacional. Não podemos, mais uma vez, fazer o jogo deles. O Brasil precisa se livrar dessa quadrilha.
Enquanto Eduardo Cunha é uma vergonha para o Brasil. Dilma é um problema.
Michel Temer compôs a mesma chapa que elegeu Dilma. Foi eleito pelos mesmos votos. O cargo de vice-presidente existe justamente para essas situações: Substituir um presidente. Golpe é o movimento que tenta ignorar isso.