O ajuste fiscal que corta na carne alheia

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cortenacarneUm dos grandes temas que tem gerado protesto e revolta por parte da população brasileira é o ajuste fiscal que está sendo promovido pelo Ministro Joaquim Levy, que sofre oposição inclusive dentro do PT. O ajuste fiscal com corte de gastos é, sem dúvida, uma agenda liberal, que prega um Estado enxuto, com poucos gastos e poucas competências.

Embora essa diminuição de gastos vá gerar ganhos futuros, como não aumentar a dívida pública, ela também gera desconforto presente, afinal, diminuir gastos que estavam sendo financiados com dívida significa deixar de viver melhor agora para dar ao país a chance de ter um pouquinho mais de poupança sendo destinada ao aumento de investimentos e produtividade, aumentando a chance de se viver melhor no futuro, e o que é mais importante, de maneira sustentável, o que não é a regra quando a vida é sustentada por endividamento.

Estando toda a população brasileira submetida a um regime de contenção de gastos e, por que não?, contenção de consumo para restabelecimento da poupança nacional, o mínimo que se espera de um Governo é que ele aplique para si o que está aplicando sobre a população.

Não seria preciso escrever, mas será escrito assim mesmo: obviamente que a regra que o PT aplica aos outros, não aplica sobre si mesmo.

De acordo com a imprensa, o Governo PT mantem 107.083 cargos de livre nomeação, sendo cerca de 31.000 destes de alto escalão, cujo custo aos cofres públicos não se soube estimar. O Congresso e os partidos, muitos deles com força política para nomear boa parte desses cargos, também não fica para trás. Em uma escandalosa manobra na votação do orçamento, triplicaram a verba de fundo partidário para 867 milhões de reais, sob o argumento que a recente investigação da Operação Lava-Jato irá minguar as doações privadas a partidos políticos.

Um dos grande ensinamentos da arte de gestão de pessoas é a liderança pelo exemplo. Qual é o exemplo que nossos líderes estão dando ao povo brasileiro no momento em que eles exigem sacrifícios de todos, sacrifícios que são de fato necessários, mas sem a menor parcela de sacrifício por parte da classe política brasileira? Como se falar em redução de “direitos” sociais, alguns até exagerados e descabidos, mas não se falar na redução de salários parlamentares, cargos em comissão e fundos partidários, esses sim absolutamente escandalosos para a quase unanimidade social brasileira, que valoriza muito a tecnocracia no serviço público?

Precisamos sim, reduzir gastos, e isso inclui o corte de gastos sociais, para liberarmos recursos para investimentos em longo prazo, mas precisamos também de redução da carga tributária e, principalmente, que nossos líderes dêem o exemplo e cortem na própria carne, com a redução da carga tributária, dos ministérios e dos cargos comissionados, para que esse fardo não recaia excessivamente na carne alheia que, por coincidência ou não, é a nossa.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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