O Brasil e a política externa para o Oriente Médio
Marcia Rozenthal*
A liberdade e a democracia precisam ter seus alicerces calcados no pensamento crítico, e este, em informações. Escrevo este curto artigo sem a intenção de dizer certezas absolutas, até porque elas não existem, mas com o intuito de expor mais um ângulo para a análise de fatos que considero de extrema gravidade.
Falar da questão de Israel e Palestina não implica em emitir julgamentos, mas é importante pela necessidade de preencher vácuos que a mídia deixa, ao que parece de bom grado, que embotam a possibilidade de que se tenha um bom entendimento da questão.
Canso de ouvir as pessoas falarem “já li tudo sobre o conflito entre Israel e Palestinos”, “não existem santos em nenhum dos lados”, como se isso bastasse e restasse esquecer o assunto, deixar para lá e abdicar da oportunidade de dialogar com pessoas sérias e inteligentes. Pior ainda, acatar esses argumentos seria assumir a irresponsabilidade de simplesmente acobertar ninhos com ovos de serpentes, que proliferarão no futuro. Já basta o que estamos colhendo no Brasil, por termos “deixado prá lá” o que era apenas um esboço do monstro que agora se nos apresenta.
Este texto foi alinhavado com base numa coluna publicada pelo jornal breaking israel news, que achei interessante e gostaria de compartilhar as reflexões que ela suscitou.
Em resumo, falarei sobre manobra “diplomática” envolvendo a questão do embaixador israelense em Brasília, e toda a sequência estranha de fatos que se seguiram a ela. Vale ressaltar a falta de divulgação destes fatos pela mídia brasileira, o que abre espaço para hipóteses, ou “caraminholas”. Uma delas, que vou delinear aqui, é que esses eventos representam um ataque dissimulado ao direito judaico a Jerusalém, que está se iniciando aqui, no nosso país, com a conivência do nosso governo petista. E, se nada fizermos, com a nossa também.
Vamos aos fatos.
Em dezembro de 2015 o governo brasileiro rejeitou a indicação de Dani Dayan, feita do Primeiro Ministro israelense, para ocupar o cargo de embaixador de Israel no Brasil. O motivo alegado foi que Dayan exerceu a função de líder junto aos “assentamentos” nas regiões da Judeia e Samaria, chamadas pela mídia global de “Cisjordânia”, de “territórios ocupados”.
O termo “territórios ocupados” é usado pela mídia de forma tão repetitiva e assertiva que solapam a presença de dúvidas que seriam naturais para qualquer ser pensante. De quem, e como estes territórios foram “ocupados”? Ora, informação que induz a certezas, e não permite indagações pode muito bem ser parte de uma propaganda de desinformação, que sempre beneficia a alguém. Como esse tema foge ao escopo deste artigo, deixo a sugestão que procurem entender o outro lado da mesma história buscando os nomes “Judeia” e “Samaria”, ou relendo a história da guerra dos 6 dias (quando 4 países bem mais populosos e maiores que Israel – a soma deles representa uma população 15 vezes maior e uma área 62 vezes maior – se juntaram para atacar Israel sem nenhum motivo a não ser o ódio), ou o que houve quando Israel trocou terra por paz devolvendo o Sinai ao Egito (o que mostra que Israel está e sempre esteve disposto a negociar), e quando tentou fazer o mesmo em Gaza, a troca foi de terras por sangue e mortes.
Voltando ao caso em questão, a missão diplomática israelense no Brasil ficou, e até agora está, sem um embaixador.
Segundo algumas análises especializadas, a recusa ao nome de Dayan está longe de se limitar a restrições à sua história pessoal, até porque esse governo não parece sensível ao caráter dos representantes com quem se relaciona. Sobre isso acho até desnecessário me alongar com exemplos. No fundo, essa tomada de posição explicita a visão do governo brasileiro, ou do partido que o ocupa, sobre o Oriente Médio. O Brasil parece entender que Israel é um país imperialista, opressor, que ostenta e personifica todos os mesmos estereótipos da “elite branca”, burguesa, conservadora que aqui habita. Ou seja, nós.
Continuando. Em 4 de fevereiro de 2016 foi inaugurada a embaixada da Palestina em Brasília, vale dizer, a primeira no ocidente. Não entro no mérito de discutir se é embaixada sem estado, se é representação com sede própria. O que chama a atenção é que ela fica localizada num prédio octogonal, cujo aspecto mais proeminente é a presença de um domo dourado, coroando-o. É uma alusão direta ao Domo da Rocha de Jerusalém, cujo significado é inequívoco, assim como o é a mensagem perigosa que está sendo enviada para o mundo. Alia-se a isso, as fotos da inauguração postadas no facebook da embaixada, que mostram um mapa do estado da Palestina que sobrepõe o atual estado de Israel.
A autoridade palestina tem 96 representações diplomáticas e consulares pelo mundo, mas esta é a única, ou até agora a primeira, que atesta através de seu projeto arquitetônico, que os palestinos não estarão satisfeitos até que conquistem o monte do templo – em hebraico se chama Har Hamoryiah, e toda a cidade de Jerusalém, sem intenção de negociar. Ou pior ainda, o sonho palestino da solução de um só estado, sem lugar para os judeus, encontrou seu espaço em Brasília. O Brasil, ou o governo que diz nos representar, está dando suporte a esta visão ao abraçar esta primeira embaixada Palestina no ocidente.
Mas a coisa é ainda mais complexa, e aí se vê o poder da desinformação.
Em setembro do ano passado houve uma explosão de violência em torno da área do monte do templo. Nesta ocasião, todo o mundo islâmico falava em defender a mesquita de “Al Aqsa”, e usaram banners onde mostravam um santuário octogonal e um domo coberto de ouro. Só que o domo dourado e o santuário octogonal não são de Al Aqsa e, sim, da chamada mesquita de Omar, ou Al-Sakhrah. A mesquita de Al Aqsa, mais sagrada para os muçulmanos, é outra, também em Jerusalém, que tem o domo coberto de prata.
Essa troca de nomes da mesquita de Al-Sakhrah por Al Aqsa parece ter o propósito de confundir o mundo, já que sua imagem virou o símbolo eterno do povo palestino.
Todo esse jogo de mentiras, outrora vivenciado no campo das palavras, teve sua materialização através de um monumento concreto levantado aqui, no Brasil. É assim que ganhamos o mundo!
A embaixada no Brasil é a mais nova manifestação da agenda palestina para deslegitimizar a natureza judaica de Israel. Uma agenda que tem cada vez mais suporte global.
Em outubro, o New York Times chegou a publicar um artigo questionando a existência dos dois templos judaicos em jerusalém, tendo sido o segundo destruído pelos romanos no ano 70. Dele restou apenas um muro – muro das lamentações, lugar sagrado para os judeus.
Para terminar, para aqueles que ainda julgam que o problema é dos judeus e palestinos, coloco aqui uma foto tirada por mim, na entrada da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, há 15 dias.
Deixo a palavra com os cristãos do mundo inteiro.
* Marcia Rozenthal é neuropsiquiatria e professora da Escola de Medicina na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro