O Brasil ficou para trás
João Victor Guedes Neto*
A OECD – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – apresentou novas projeções para o crescimento da economia global em 2016 e 2017. Em ambos os períodos o Brasil aparece entre os piores países do planeta, partindo de uma recessão de 3,8% no PIB em 2015 para uma queda ainda maior, 4,0%, em 2016 e sua manutenção em 2017. Isto significa que a crise neste ano tende a ser ainda maior do que a do ano passado.
Os números da consultoria Goldman Sachs são mais “otimistas”, prevendo uma contração de “apenas” 1,6%. Isto significa estar bem atrás da Rússia, que passou por crise semelhante em 2015 mas tem previsão para crescimento de 1,5% em 2016. Também significa que paramos no tempo em relação ao resto do mundo, que crescerá 3,5% carregado pelo bloco emergente – do qual fazemos parte – com projeção de alta de 4,9%.
A culpa é da crise política, vão dizer. Se o judiciário e o Congresso Federal não permitem que o governo faça o seu trabalho, como podemos esperar um resultado diferente? O argumento da situação faz sentido. Instabilidade política e crise econômica costumam andar de mãos dadas. Vejamos só a Argentina que, mesmo com educação e economia de primeiro mundo até a década de 1940, se afundou em crises e mais crises no resto do século XX por não conseguir um pingo de estabilidade política.
O motivo para esta relação é simples: qual empresário vai aventurar seu dinheiro em um país onde não se sabe o que acontecerá no dia seguinte? E sem empresários, quem pagará os salários que, além de qualidade de vida, fazem o consumo e a produção crescerem?
No entanto, a teoria falha em explicar o que vem primeiro, a crise política ou a crise econômica. Não é fácil afirmar se o PT está instável por causa da economia ou se a economia está instável por causa do PT. Explicações razoáveis existem dos dois lados. Nenhuma é definitiva.
O ponto principal é que o mercado (nós, nosso dinheiro e nossa decisão de gastar ou não) não tem ideologia. Um empresário não decide aumentar ou diminuir sua empresa com base na filiação partidária. O mesmo se aplica ao consumo do cidadão. Gastamos dinheiro quando acreditamos que o cenário é favorável e seguramos as contas quando estamos inseguros. Neste caso, tanto faz se quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha.
O que é importa é que 2016 tem tudo para ser o ano mais difícil do século XXI. Importa também que o mercado, representando a população, não acredita na competência do Governo Federal para gerir a crise. E finalmente, importa por que perdemos mais uma vez a chance de nos aproximar do mundo desenvolvido.
*João Victor Guedes Neto é economista, mestre em Gestão Pública e Sociedade, especialista do Instituto Millenium, coordenador do Programa para a América Latina da International Federation of Liberal Youth e atualmente está na Leuphana Universität Lüneburg (Alemanha).
Um argumento recorrente da esquerda é que nossos problemas advém de complô internacional dos países desenvolvidos que não tem interesse no nosso sucesso econômico. Uma prova disso seria a relação dívidapib brasileira ser relativamente baixa comparando com Estados Unidos, Japão, Itália, etc. Ou seja, não teria problema aumentar nossa relação dívidapib de 60% para 100% porque ainda estaríamos abaixo dos Estados Unidos. É claro que há mais informações que devem ser levantadas, por exemplo, de que forma a dívida foi criada, qual a capacidade de investimento do governo de das empresas, etc. Seria ótimo termos uma tabela comparativa com diversos fatores econômicos do principais países mais endividados para que possamos fazer uma comparação justa e entender porquê o Brasil não deve deixar sua dívida interna crescer mais.