O Certo e o Errado
*Eduardo Britto
“Justice consists not in being neutral between right and wrong, but finding out the right and upholding it, wherever found, against the wrong.”
– Theodore Roosevelt
Conforme o chamado “relativismo” e seus reflexos vão se impregnando na sociedade, se juntando aos vários lugares comuns já existentes, cresce descontroladamente a falta de noção do certo e do errado. O discurso que prega que não há verdade absoluta, levando as pessoas a revisarem todos os conceitos e valores internalizados por meio da tradição e da experiência, distorce a realidade e desorienta as mentes, fazendo com que as noções de certo e errado em uma sociedade civilizada se confundam ou mesmo desapareçam.
Adicionalmente, perde-se o senso das nuances e o significado das condutas, do comportamento e das palavras. Instaura-se uma situação de completa histeria, onde não se distingue nem ao menos os diferentes pesos e proporções de uma atitude violenta, de um xingamento e de uma brincadeira; onde reagir a um assalto é considerado mais criminoso do que cometê-lo; onde a reação a um xingamento de “veado” ou “bicha” é infinitamente mais indignada e raivosa do que a reação ao enforcamento de dezenas de gays no Irã, por exemplo.
Outro exemplo da cegueira causada por esse fenômeno é a completa perda da capacidade de análise da história e dos fatos da atualidade. É o que acontece quando alguém repudia o regime nazista, mas defende incondicionalmente o regime comunista, sendo que este produziu dez vezes mais cadáveres do que aquele; ou quando se coloca em segundo plano a questão dos mais de 50 mil mortos por ano no Brasil.
Se alguém se propõe a destituir todas as condutas humanas – e o próprio vocabulário – de sentido, da noção de bom ou ruim, de certo ou errado, de justo ou injusto, inevitavelmente abolindo com isso todas as gradações que se fazem presentes entre um extremo e outro, a conclusão óbvia é que todo esse vazio que restará, aos poucos, será ocupado por uma nova ordem, por novas noções, a serem impostas pelo grupo que tiver mais domínio, influência e poder sobre a sociedade.
A partir daí, ficamos sujeitos aos caprichos de um segmento dominante que irá arbitrar o que é certo ou errado, descartando a ideia de uma moral absoluta. No campo político, o resultado disso é a imposição do autoritarismo vindo de um grupo dominante, fazendo com que o considerado moralmente correto se confunda com as suas vontades e seus objetivos.
Levada às últimas consequências, essa inversão de valores torna qualquer julgamento que façamos absolutamente sem sentido. Se não há um critério objetivo para dizer se algo é certo ou errado, é ilógico dizermos que a corrupção, o roubo ou o assassinato, por exemplo, são errados ou moralmente condenáveis, uma vez que não existe padrão objetivo de moralidade para nos orientar. Do mesmo modo, não se pode julgar como boas ou moralmente corretas a prática da caridade, a honestidade ou o amor ao próximo. É isso que, no fundo, o discurso de “o que é certo para você pode não ser certo para mim” ou “cada um tem a sua verdade” representa.
Quando se extingue a noção de moralidade, mesmo as condutas que são obviamente asquerosas e condenáveis acabam sendo justificáveis, uma vez que tudo depende da opinião subjetiva de quem as analisa. Nos regimes comunistas, a título de ilustração, seus defensores não enxergam mal algum nos milhões de mortos produzidos por tal ideologia por considerar que, no fim das contas, ela visa um “bem maior”, seja lá o que isso queira dizer. Não obstante, se um criminoso põe em risco a vida de um inocente e este reage, tirando a vida do criminoso para poupar a própria, logo aparecem movimentos de esquerda e dos direitos humanos indignados com o fato e se solidarizando com o pobre bandido.
Desta maneira, fica bastante clara a ausência de senso das proporções e de um critério objetivo de julgamento, bem como fica fácil observar como este julgamento se condiciona apenas à opinião subjetiva de quem analisa a situação, que, por sua vez, em grande parte dos casos, está ligada aos proveitos políticos que se pode extrair.
As pessoas de bem (termo alvo de muito preconceito hoje em dia, justamente por conta do fenômeno descrito neste artigo) não podem tolerar a ascensão de um grupo que se julga iluminado e apto a criar um novo padrão de normas de forma arbitrária. Afinal de contas, a sociedade conseguiu evoluir a um estágio de civilização por se guiar por um padrão objetivo de moralidade que foi assimilado ao longo dos anos, e não por fórmulas criadas em laboratório.
*Graduando do curso de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro