O Desmanche da Riqueza – a pobreza derivada do pensamento
“O rei mantém a terra pelo direito,
Mas o ávido de impostos a transtorna”.
Provérbios 29, 4.
Quem criou a riqueza, senão os homens? Existe riqueza na natureza? Flores são ricas? Cães selvagens possuem fortunas quando seu território aumenta e há mais caça e água? As sequoias americanas ou os baobás africanos são ricos em quê e por quê? Por terem muitos nutrientes, idade e espaço no solo? Por suas raízes serem mais profundas que das de cerejeiras ou macieiras? Peixes ganham acréscimos de valor quando sua água esta menos poluída, ou fungos são mais abastados quando podem combater melhor as bactérias?
São tais perguntas tolas que, no fundo, enxertam uma boa parte da concepção esquerdista de valor. Se a resposta a todas estas perguntas acima for sim, então existe um grande problema de percepção a respeito do conceito de natural e artificial. O termo “rico” pode ser usado na natureza como sinônimo de uma noção que transpareça um grande número quantitativo de algum elemento. Níveis significativos de oxigenação, altas taxas de reprodução, carne, vegetais, água, luz solar, espaço, etc., podem ser transparecidos com o termo “riqueza”, mas jamais para um contexto econômico. Animais não possuem economias.
Se a economia só existe no meio humano, logo, apenas homens podem enriquecer e empobrecer. O que seria a pobreza, então? Ser pobre é possuir pouco. A economia muda de acordo com as sociedades e com o tempo, assim como os materiais que são símbolos de valor: ouro, sílex, prata, cobre, bronze, grãos, animais, terra, cédulas… Sob cada contexto, a falta desses símbolos é sinônimo de pobreza econômica.
Portanto, se é pela falta quantitativa da artificialidade econômica, a pobreza está relacionada com a falta de recursos que certa cultura considera valiosos economicamente; por conseguinte, a penúria esta relacionada com o estado natural biológico do homem. Humanos não nascem dotados de nenhuma veste, posse ou artificialidade; um recém-nascido, ou um feto, estão em certo sentido na mesma condição que um animal em seu habitat natural. Decerto, os humanos detêm mais potencialidades e qualidades por conta de sua natureza metafísica, mas em termos estritamente naturalistas, a riqueza econômica não faz sentido.
De onde vem essa riqueza? Como os homens enriquecem? As pessoas não transportam, ou colhem riquezas do meio natural, mas sim criam riquezas. A fortuna financeira é feita, não colhida.
Não faz sentido afirmar que “os poucos tiram dos muitos” para enriquecer, uma vez que não existe um coeficiente de abastanças dadas na natureza para se tomar, ou para a sociedade se assentar e os ricos subtraírem dos mais pobres. Se assim fosse, não seria possível existirem avanços tecnológicos e sociais, em termos de riqueza, pois ela já estaria dada. Mesmo os recursos naturais, todavia, não são riquezas necessariamente, mas podem se tornar sinônimo de algo próspero.
Uma sociedade que vive cercada de minas de ouro, prata, diamante e poços de petróleo não será necessariamente mais rica que uma em que só se tenha ovelhas e cabras ao redor de um terreno montanhoso. Tudo depende do arranjo cultural para valorizar os elementos naturais em volta.
O gênio humano é o responsável pela riqueza, não a natureza; embora seja muitas vezes do meio natural que a sociedade extrairá os recursos, apenas o intelecto humano tem a capacidade de produzir algo de valor do meio natural. Atualmente, por exemplo, até mesmo os recursos do meio natural não consistem em um produto em uma grande parte dos casos. Empresas de entretenimento, como a Netflix, detêm um fluxo de dinheiro gigantesco e um lucro bem alto sem extrair uma única matéria prima diretamente, mas ainda assim produzem riquezas.
Muitos indivíduos saíram de uma situação ruim para ter uma conta milionária em suas vidas. Joseph Kennedy, John Ford, Irineu Evangelista de Souza, Kenny Troutt, Jan Koun, Howard Schultz, Jim Carrey, Steve Jobs, George R. R Martin, Silvio Santos subtraíram somas de quem para ficarem ricos? De quem J. R. R Tolkien tirou dinheiro ao publicar e vender seus livros? De ninguém. O autor britânico criou seu enriquecimento.
Onde esta o cálculo matemático para comprovar que quando um indivíduo fica rico, normalmente os mais pobres empobrecem mais? Tais estatísticas não existem, mas muito pelo oposto: com o crescimento econômico, isto é, com uma minoria de pessoas ficando ricas, as grandes parcelas da população também enriquecem. Tais dados foram estudados por Ian Morris[1], que mostra que o nível de desenvolvimento social (incluindo lazer, saúde, etc.) cresceu graças à Revolução Industrial[2].
Foi a Revolução Industrial que possibilitou a criação de mais empregos e mais divisões de trabalhos, e não a diminuição. Sapateiros e ferreiros podem ser raridades atualmente, mas técnicos de segurança, web designers, youtubers, aeromoças, engenheiros espaciais, críticos de cinema, caixas, etc., jamais existiriam sem a gama de criações feitas pelo gênio humano para a produção industrial. O lucro foi o fator chave para a vontade de crescer e construir dentro da sociedade.
Adam Smith já previa e analisava tal característica no século XVIII: “é a grande multiplicação nas produções de todos os diferentes ofícios, em consequência da divisão do trabalho, que propicia, numa sociedade bem governada, que a riqueza universal se estenda até as classes mais baixas do povo. Todo trabalhador tem uma grande quantidade de itens de seu próprio trabalho para pôr à disposição, muito além dos que ele terá ensejo de dispor ele mesmo; e como cada um dos outros trabalhadores está exatamente nessa mesma situação, ele tem a possibilidade de trocar uma grande quantidade de seus próprios itens por uma grande quantidade de outros, ou, o que vem a ser a mesma coisa, pelo preço equivalente a uma grande quantidade de outros. Ele supre os outros abundantemente com aquilo de que eles possam ocasionalmente precisar, e eles lhe fornecem com a mesma abundância aquilo de que ele eventualmente necessite, e uma grande fartura se dissemine por todas as diferentes classes da sociedade”[3].
Smith analisa as divisões do trabalho desde as sociedades primitivas[4], onde afirmou que as divisões do trabalho são um dos sinais para a melhor distribuição e desenvolvimento de uma sociedade. Com a Revolução Industrial e a criação de novos mecanismos e tecnologias, as divisões se acentuaram e a qualidade aumentou, mas ao mesmo tempo, com a industrialização, meios que nos tempos do medievo eram mais difíceis de produzir tornaram-se mais baratos e numerosos, como ferraduras ou até mesmo a comida.
Mas se a riqueza esta no gênio criativo humano, incentivado pelo lucro e pelas bonanças que vêm com ele, o que produz a pobreza? A pobreza é criada pela falta de incentivo ao homem, isto é, pela subtração do lucro.
Tal diminuição de lucro pode ocorrer por inúmeras causas. Uma má transação, um péssimo planejamento de contas e investimentos, fenômenos e catástrofes naturais, mau gerenciamento de recursos diversos, uma extração de matérias primas de maneira desenfreada e imprudente, mudanças na moda, no comportamento e na cultura social, etc., mas desgraçadamente, o mal mais perigoso é o estatal. Infelizmente, na política, o perigo de uma falência é inexistente. O Estado comanda as forças policiais e armadas, além de possuir o poder de imprimir a quantidade que quiser de dinheiro para se sustentar. Um Estado jamais é pobre ou falido, salvo em exceções de desastres naturais ou invasões.
Líderes do governo sempre terão a possibilidade de aumentar seus ganhos, uma vez que o aparelho do Estado sempre terá a potência de se exacerbar, mesmo sendo um Estado Mínimo. Para o aparelho estatal poder existir, impostos precisam ser cobrados, logo, o mesmo aparelho é incapaz de produzir grandes riquezas, mas apenas subtrair a riqueza de sua sociedade para sua própria existência. O Estado em si não consiste em um problema, mas seu acentuado parasitismo sim. Com uma carga de tributos elevada, a população não enriquece, pois se vê obrigada a perder uma gorda fatia de seus ganhos em prol do inchaço estatal.
Em nome de uma “coletivização” de lucros ou bens, pode-se arrancar a verdadeira fonte de enriquecimento humano: o próprio indivíduo, uma vez que ele não verá vantagens em possuir e construir mais, permitindo que mais empregos fossem gerados ou criados. Tal Desmanche da riqueza se deve pela negação da obtenção de lucro pelo trabalho ou mérito de certos indivíduos. Uma vez que o ganho pelo mérito é descartado em prol do coletivo ou de certas parcelas da sociedade, o empresário – ou qualquer um que queira investir em algo vantajoso – se vê privado das boas consequências de tudo o que ganhou com seus esforços. Socializar a renda é o mesmo que empobrecer a todos, uma vez que são os empresários, e não outros, que empreendem e fazem a sociedade crescer, criando empregos e novas tecnologias.
Uma estagnação, seguida de uma decaída, é o preço a se pagar por um Estado influenciado por ideias que limitam o empresário. Não existiriam certos tipos de alimento, veículos e meios de comunicação sem os sujeitos que enriquecem acima dos outros com suas invenções. Afirmar que a desigualdade social é um mal por si só é culpar certas pessoas por serem melhores que as outras em seus investimentos e ações. Todo o crescimento e desenvolvimento, nas sociedades ocidentais, só puderam ocorrer graças ao capitalismo e seus dinamismos. Apenas do modo capitalista é possível enriquecer a sociedade de uma maneira significativa e generalizada para as massas menos abastadas; negar tal afirmação equivaleria se esquecer de que um pobre, na década de 1950 na Inglaterra, não está nas mesmas condições materiais que um pobre inglês em 2015. É fazer questão de esquecer todo o progresso técnico e qualitativo dos produtos nesses 65 anos, além de tapar os olhos para a quantidade exorbitante de produtos a que um pobre hoje tem acesso, mas que seus avós ou pais na década de 1950 não poderiam ter.
Os Atlas do mundo são aqueles que estão interessados em ficarem ricos, terem mansões, iates, e rios de dinheiro, os burgueses malvados. Sem a vontade de enriquecer, o homem jamais avançaria, e nunca existiria um progresso tão grande para os pobres que, hoje em dia, estão mais bem nutridos que a maioria dos homens que já pisaram neste planeta. A riqueza geral, entes de sofrer um desmanche por conta do Estado, começa a ser odiada e invejada na mente dos propagadores de ideias voltadas para o social, mas conseguem gerar apenas o que mais detestavam: políticos corruptos, ávidos por mais impostos, usando aparelhos judiciais em prol de sua própria riqueza, subtraindo a dos demais[5] para exercer mais controle, revestido e polido com termos como regulamentação, ou democratização.
Democratização, aliás, é um substantivo de Δημοκρατία – Democracia. Demos, em grego, significa povo, e Kratos, poder. Qual é o povo que tem mais poder? Aquele que consegue enriquecer, ou aquele que tem uma trava em seus progressos econômicos?
[1] http://andrewmcafee.org/wp-content/uploads/2011/06/socialdevelopment-650×463.png
[2] Outro pesquisador que estudou a respeito é Greg Clark, que calculou o desenvolvimento salarial inglês desde a era medieval até a Idade Contemporânea: http://andrewmcafee.org/wp-content/uploads/2011/06/Clark-650×563.png
[3] SMITH, Adam. A Mão Invisível. 1ª ed., São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2013, p. 15-16.
[4] Idem, p. 22.
[5] Convém lembrar que a palavra “Imposto” não possui esse nome sem motivos. Não é algo que a sociedade faça de bom grado, mas sim algo imposto.
O capitalismo não tem tamanho, tem limite. Adapta-se muito bem onde estiver. Ou, lá não estará.
Se não houver regras claras, o capitalismo simplesmente não vai lá. Se a regra for desfavorável, também não.
O capitalismo precisa de uma única coisa para funcionar: regra. Nem de liberdade precisa. Basta ver que na China há capitalismo, mas não há liberdade. O capitalismo usa a regra da China para se favorecer, não é obrigação das empresas cuidar da liberdade do país, isto é função do Estado.
Meu caro, eu receio que você esteja confundindo Capitalismo de Estado com o Capitalismo Liberal. De certo existem vários tipos de capitalismos… toda e qualquer transação ou comércio pode ser considerada, a grosso modo, um capitalismo; mercados não são frutos da Teoria Moderna de economia, mas sim o oposto, contudo, o capitalismo mais proveitoso é o Liberal. É o único que depende de valores e libera a sociedade para enriquecer ao seu modo.
Liberalismo JAMAIS pode ser um liberalismo de Estado, pois esta no conceito que é um capitalismo liberal. Acredito que você confundiu o tipo de capitalismo que coloquei no texto.