O que podemos aprender com os R$ 88,6 bilhões que sumiram da Petrobras
Foi divulgado que a Petrobras teve R$ 88,6 bilhões de “baixas” apenas graças (sem trocadilho) à corrupção. O cálculo foi feito por consultorias independentes. A presidente ficou “enfurecida”, pois “a divulgação acabou criando a imagem de que os ativos da estatal precisam ser baixados não só por causa de corrupção mas também por incompetência administrativa.”
A presidente, na verdade, não queria que tal resultado viesse a público: “O Planalto [ou seja, a presidente] não queria a divulgação dos R$ 88,6 bilhões, mas o conselho considerou que o número acabaria vazando e a situação poderia ficar pior, levantando a suspeita de que o órgão estaria escondendo dados.” Em um único dia, as ações da Petrobras recuaram 11,2%, batendo hoje o “piso” de R$ 8,19.
Vamos reler tudo isto com calma.
Em primeiro lugar, estamos falando de uma petrolífera. Não de uma quitanda, de um livro de autor desconhecido, de uma nova invenção esquisita, de uma empresa do Eike Batista ou de um investimento de risco, como apostar todas as fichas em um novo atleta. Estamos falando de uma petrolífera, uma petrolífera cuja ação vale R$ 8,19 (passe ida e volta metrô e ônibus em São Paulo, usado por qualquer um na periferia todo dia, custa R$ 12).
Como fazer uma petrolífera valer tão pouco? Há algumas hipóteses. Alguém poderia virar presidente dela e nunca ir trabalhar, ficar dormindo ou assistindo Programa da Tarde. Contudo, é uma petrolífera. Uma petrolífera por si dá um lucro formidável por si.
Uma alternativa é pegar os poços de petróleo e tacar fogo (dica de Física: petróleo evapora), como os iraquianos fizeram nas duas guerras do Iraque. O problema é justamente esse: já fizeram isso, e nenhuma petrolífera com investimentos no Iraque conseguiu amargar tal prejuízo. Comprovado historicamente: nem tacando fogo dá.
Ou então poderíamos criar um acidente petrolífero de dimensões homéricas – talvez isto explicasse o resultado negativo. Mas espere: a British Petroleum (BP) amargou o acidente da plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México em 2010, com 11 mortes, o maior acidente petrolífero nunca antes na história deste mundo. Suas ações padeceram da pior queda em 13 anos na Bolsa de Londres, valendo 6,32% a menos. O equivalente a R$ 90. O custo total da catástrofe ultrapassou R$ 2,35 bilhões.
Em 4 de janeiro do mesmo ano de 2010, as ações da Petrobras (PETR4) fecharam em R$ 34,17. Já em dezembro do mesmo ano, quando se começou a descobrir (ou a imprensa começou a perceber o que qualquer liberal já sabia há tempos) os descalabros do PT com a estatal, as ações valiam R$ 27,29. Queda de 20,13%. O PT sozinho é pior do que qualquer desastre petrolífero – até o maior da história.
A primeira coisa que podemos aprender com a Petrobras: não se sabe COMO é possível ter tanto prejuízo. Nem não fazendo nada, tacando fogo, explodindo ou derramando no mar, uma petrolífera não consegue perder tanto dinheiro do pagador de impostos brasileiro. É algo que só o PT faz por você.
Segunda coisa: estamos falando de bilhões de reais. Você não ganha isso na Mega Sena. O mais alto salário de Michael Schumacher no esporte mais caro do mundo era de US$ 80 milhões, mas geralmente US$ 20 milhões. Uma mixaria. Troco de pinga.
O mensalão fez o brasileiro tratar uma soma de dinheiro tão alta como “ah, roubaram ainda mais”. Logo estaremos falando de TRILHÕES roubados, e todo mundo achando normal. Ou justificando, afinal, é um custo para termos um “governo social”, “distribuindo renda” entre os mais pobres, só ficando com uma ajuda de custo no caminho.
O que são R$ 88,6 bilhões? De acordo com o Tumblr O que comprar com 88 bilhões de reais, podemos comprar 523.599.999.971 litros de água mineral. A capacidade máxima do Cantareira é de 1,5 trilhão de litros de água. Em outras palavras, daria para encher mais de um terço do reservatório Cantareira com água mineral, algo que não pode ser expresso em exclamações, pontuações ou palavrões em qualquer língua do Universo.
Mesmo para os típicos números petistas sempre inflados, a cifra ainda assusta: poderíamos contratar 176 mil campanhas da Dilma Bolada, o perfil de “humor” do Twitter que embolsou R$ 500 mil via PT para fazer “piadas” que basicamente são acusações a Aécio Neves usando a palavra “cocaína” e seus sinônimos. A “seriedade” do negócio fez a presidente que terminou 2010 jurando que continuaria conversando no Twitter (e não escrevendo nada mais desde então) voltar ao Twitter apenas para trocar afagos com o perfil que flerta perigosamente com a calúnia, sem que nenhuma das duas Dilmas sofresse processo por isto.
Ou, para quem acredita na boa vontade petista, poderia-se comprar 1.466.666.666,7 cestas básicas do tipo 2. O PT não está supostamente interessado em “acabar com a pobreza”? Daria para o Brasil inteiro e ainda alguns bons países africanos.
Para se ter uma idéia, usando apenas notas de R$ 100, poderíamos formar pacotes de dinheiro. Um pacote com 100 notas tem apenas 1,0 cm de espessura. Empilhando-se o rombo da Petrobras, daria 8.000 metros: um monte Everest.
Mas façamos uma continha mais estarrecedora.
Segundo o governo e a esquerda, empresas devem ser estatais e o Estado deve interferir na economia porque o “mercado” não liga para os pobres, e “áreas estratégicas” como o petróleo (embora estranhamente não tratem comida como “área estratégica”, como bem notou Rodrigo Constantino no seu livro Privatize Já!) devem servir para dar dinheiro para os pobres, num governo “social”, para “diminuir a desigualdade de renda”, “distribuindo” a renda dos “ricos”.
O impostômetro de 2014 mediu que fomos tungados em R$ 1,8 TRILHÃO apenas em 2014, soma que aumenta anualmente, o que renderia R$ 8.800 a cada brasileiro. Parece pouco? Não sejamos gananciosos. Segundo o PT, há 6 milhões de brasileiros vivendo em situação de pobreza. Dados deles, que supõem que “acabaram com a pobreza” com o Bolsa Esmola. Fazendo as contas, só os nossos impostos em 2014 poderiam dar R$ 300 mil para cada brasileiro pobre [!!!] só em 2014. Não é brincadeira: cada brasileiro pobre, não é nem uma família.
Um brasileiro pobre que se case com uma brasileira pobre e tenha 5 filhos pobres, de acordo com o “governo distributista”, poderia ganhar, apenas em 2014, se os impostos fossem “distribuídos” entre os pobres, R$ 2,1 milhões. Claro, há uns custos do próprio governo, mas o que importa é distribuir entre os pobres. Como resultado destes custos, que estes liberais não aceitam, rende apenas… bom, o que os pobres receberam do governo em 2014.
Repetindo: o PT no governo tomou R$ 1,8 TRILHÕES em impostos em 2014. Há 6 milhões de pobres no Brasil, segundo o PT. Poderíamos dar R$ 300 mil para CADA pobre. Quem ainda acredita que o Estado deve interferir na economia para o bem dos pobres tem o que a dizer?
Mas há mais. Literalmente. A própria Graça Foster, presidente da Petrobras, alegou que as perdas podem ser muito maiores. Como demonstrou Leandro Narloch na Veja, este número é simplesmente uma projeção. Um chute. Aliás, um chute bem pra baixo: um mero palpite, para parecer que menos do meu, do seu, do nosso dinheiro (inclusive da dona Jusicreide da faxina) foi parar no bolso de doleiros, mensaleiros, petroleiros, empreiteiros, deputados, bispos universais e outros petistas e apaniguados.
Mas Dilma Rousseff, a presidente, teve uma conversa “duríssima” com Graça Foster devido a divulgação dos dados. Não porque os dados indicam uma corrupção-catástrofe que, como ela afirma em seus discursos, deve ser “investigada com rigor” (risos). Mas porque os dados foram divulgados. E só se aceitou que os dados fossem divulgados para não deixar claro que Dilma e o governo estavam escondendo os números.
Para Dilma, o problema não foi roubarem. Foi divulgarem o roubo. Deveriam ter divulgado muito menos.
Isto nos faz aprender ainda outra coisa mais importante do que tudo o que você vai aprender na faculdade sobre o governo. A tal “mídia golpista” não existe. Ou, se existe, somos só nós e uns 20 ou 30 gatos pingados, latino-americanos e sem dinheiro no banco. Só nós contamos este óbvio para a população. De resto, falam com a pseudo-“objetividade” da divulgação jornalística que só trata de esconder os fatos objetivos. Dilma. Está. Tentando. Esconder. O. Roubo. Simples.
Mas mais do que isto, está tentando manipular índices. Ela quer que as ações da Petrobras se mantenham altas à força, e não movidas a realidade. Então, baixa uma norma interna para um dado ser divulgado ou não.
E há quem acredite: mormente a população inculta (por só ter professores petistas e esquerdistas em sua formação), os que são pagos para acreditar e os que simplesmente compram qualquer bobagem que pareça “social”, mas não andam muito crentes em apostar seu dinheiro na PETR4 (sabe como é, são “cultos” e mais estudados do que os “coxinhas” liberais, mas também não vamos arriscar nosso suado dinheiro burguês no que acreditamos).
Não é a primeira vez. O PT também adora dizer que “tirou 40 milhões de brasileiros da pobreza”, como a Dilma fez em auto-elogio na Economist, depois só “30 milhões” e sei lá mais quanto. Bobagem. Apenas trocaram o índice: começaram a contar quem ganha R$ 291 por mês como “classe média” (sic ad infinitum).
Depois, ainda mais: para a “pobreza extrema”, criou o “Brasil Carinhoso” (como se o PT fizesse algo além de tomar dinheiro da população para dar de volta, e dizer que está fazendo “distribuição”). Segundo eles, teriam tirado 16,4 milhões de pessoas da miséria apenas em 7 meses (!!!). Num ano eleitoral, claro (por que não tirar antes?). O método? Dar alguns trocados a mais para as pessoas para atingirem os tais R$ 291. Algumas pessoas chegaram a ganhar mais R$ 2 (sim, dois reais, a notinha azul) e “saíram da miséria”.
Há quem compre a lorota até hoje. O PT pode ter mensalão, petrolão, ciclofaixa que custa mais do que mármore, Celso Daniel, Toninho do PT, Aldo Rebelo, Top-Top Garcia: não importa, é o “governo do povo”. Quem não gosta de pagar imposto é coxinha. Mas essas pessoas nunca fizeram as contas.
E Márcio Holland, secretário da Fazenda de Dilma, que sugeriu ao povo que comesse ovo ao invés de carne, para “baixar o preço da carne” na lei de oferta e procura? Foi em 2014, ano eleitoral, da apertada “vitória” de Dilma. Por que isto? O povo sabia que a carne estava cara. Mas se ela abaixasse, o próprio secretário poderia dizer: “Vejam, vocês não conseguem comer carne, mas os índices mostram que a carne baixou, então na verdade vocês podem! Votem em nós!”, e assim, ao próprio povo esfomeado, venderia-se a idéia de que ele estaria com a pança cheia. E ninguém contou o truque.
E que tal a “quitação da dívida externa com o FMI”, do fim do primeiro mandato de Lula, que o fez se reeleger apesar do mensalão? Trocou uma dívida externa de 6% ao ano (juros compostos) pelo aumento mágico e repentino da dívida interna a mais de 12% (juros também compostos). Isto foi o seu dinheiro, para então Lula se reeleger te dizendo que você estava mais rico, por não entender nada do que é dívida externa ou FMI.
Aprendemos mais uma coisa: nunca confie em políticos, mas sobretudo políticos petistas.
Este tipo de estelionato que é vendido até hoje deveria ser matéria de capa de todo jornal até agora. Nunca foi. Devemos corrigir isso. Essas contas precisam chegar à toda a população. E acabar de vez com o “governo do povo” e a crença de que precisamos de economia estatal para o bem dos pobres – ela só faz bem para quem controla o Estado, às custas dos pobres.
SEN-SA-CIO-NAL
Alguém me explica uma coisa. Diz que o percentual de impostos no total do nosso PIB é 37%, logo, 0,37 * 12 = 4,44, total de meses que o brasileiro trabalha pra sustentar impostos. Mas na conta do PIB já não inclui esses 1,8 trilhões que o governo arrecadou? Ou seja, do PIB total, 37% é o que o governo movimentou e o restante 63% o que o setor privado movimentou. No meu entender, no movimentar esses 63% o setor privado gerou os 37% de impostos, logo, pagamos 37/63*100 = 58% de impostos ao todo, então trabalhamos 0,58 * 12 = 7 meses no ano para pagar impostos. Por favor alguém me diga que estou errado e onde.
É um tanto bem por ai….
Tudo é uma questão de arbitrar a fórmula. Aí o pib aumenta ou diminui ao sabor da vontade do freguês. Seria um parametro para medir variação e não a real produção.
Flavio, este artigo é muito bom.
Ele, por si só, já é suficiente para desbancar os esquerdistas da moda (que estão mais abertos ao diálogo). Precisamos estudar, memorizar e compreender esse tipo de conteúdo econômico, porque bate nas costas de todo mundo igualmente (menos pros esquerdistas funcionais porque estes sobrevivem da opressão).
Sucesso.