Quando o PT abandonou os pobres
O Partido dos Trabalhadores nasceu em 1982 da união de sindicatos, grupos ligados à esquerda da igreja católica, intelectuais, artistas e estudantes que haviam se organizado, não apenas para representar politicamente os mais desfavorecidos, mas que tinham um projeto de profundas reformas políticas e sociais. O PT era a promessa de inclusão dos excluídos.
O discurso e, naquele tempo, as ações de seus membros tornavam possível a qualquer um se tornar parte da construção de uma nova política. A voz dos anônimos era ouvida nas inúmeras assembleias ou, aos brados, nas ruas. A participação era a tônica da construção de um Brasil que o PT esperava mudar.
E o PT começou a se incluir no processo político. Ainda na assembleia que elaborou a atual Constituição de 1988, o lado oposicionista do partido se fez presente e 15 de seus 16 congressistas votaram contra a Lei Maior, ainda que esta ficasse conhecida como Constituição Cidadã pela grande quantidade de direitos que conferia à população em geral. Disseram eles que o “PT, como partido que almeja o socialismo, é por natureza um partido contrário à ordem burguesa, sustentáculo do capitalismo” e, por esse motivo, rejeitavam a Constituição.
Finalmente, com Lula, o PT alcançou a presidência e começou a implantar profundas reformas sociais, proporcionadas pela herança bendita deixada por Fernando Henrique Cardoso. Com os gastos públicos controlados e com baixa inflação, o PT conseguiu garantir aos mais pobres o aceso ao consumo e às universidades. O Brasil que o PT sempre almejara era, enfim, possível de se realizar.
A boa fortuna que o Brasil atravessava, também atingiu os dirigentes petistas e nunca antes na historia desse país tantos companheiros enriqueceram tanto em tão pouco tempo. O acesso ao poder garantira não apenas incontáveis cargos, benefícios aos sindicatos e artistas engajados, mas, sobretudo, grandes oportunidades para negócios e negociatas.
Os petistas graduados não mais eram pobres, ou sequer classe média, estavam ricos. As vacas gordas também chegaram à própria legenda, o dinheiro corria fácil. Vinha dos companheiros bem empregados que necessariamente doavam parte de seu salário à sigla e de ricos empresários.
E os pobres? Bem, estes são necessários agora apenas na época do voto. Os políticos petistas mantêm o discurso, mas a realidade deles já se transformou. A promessa do PT – ao menos para seus dirigentes – se cumpriu.