Um caso pela energia nuclear brasileira
BERNARDO SANTORO*
Em artigo publicado no Globo de hoje, o Presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento das Atividades Nucleares, Antônio Muller, constrói um interessante argumento em favor das usinas nucleares no país, e urge pela adoção de políticas públicas nesse sentido.
Segundo o autor, o Brasil é o sexto país com maior reservas de urânio no mundo (a Agência Internacional de Energia fala que é o sétimo, mas é uma diferença desprezível na prática), que é um dos três únicos países que dominam todas as etapas da técnica de enriquecimento de urânio (junto com EUA e Rússia), e que, embora concorde que a matriz hidrelétrica deva ser a prioridade, entende ser um equívoco o uso da energia termelétrica (carvão e petróleo), eólica e solar como fontes complementares, por serem mais caras e poluentes.
Nesse sentido, lembro ainda que as usinas hidrelétricas tem um grave problema de localidade no Brasil, visto que elas estão longe dos grandes centros consumidores de energia, e a sua transmissão gera muitas perdas ao longo do caminho, ao passo que usinas nucleares não precisam estar tão longe dos centros consumidores (a usina de Angra, por exemplo, fica a 150 kms da cidade do Rio de Janeiro).
O professor destaca ainda que a burocracia para implantação de usinas é exagerada (leva-se até 9 anos apenas no processo de autorização) e que há interesse do setor privado em investir nesse projeto sem um centavo de dinheiro público, e isso viria a aumentar a oferta de energia, diminuindo a conta de luz da população.
Mas a matriz energética brasileira, infelizmente, não segue os ditames da racionalidade de mercado, e sim as pautas políticas dos governantes. A desinformação acerca desse tipo de energia faz com que a população tenha medo do seu uso, que pode trazer grande progresso para o país, mas esse panorama desincentiva políticos a abraçarem a ideia. A irracionalidade é tamanha que as empresas do setor, públicas ou privadas (no caso fiscalizadas e controladas pela ANEEL), fazem campanha para que haja menos consumo de energia, ou seja, as empresas gostam de lucrar menos e, ao mesmo tempo, defendem o empobrecimento da população, já que ter energia abundante e barata à disposição para consumo é um indicativo de riqueza da população.
Uma desestatização do setor certamente levaria a uma maior abundância de recursos elétricos, com o uso da energia nuclear, além do barateamento da conta de luz e do aumento da produção industrial, gerando empregos, capital e renda. Tal reforma deve ser feita com urgência.
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL